Saúde sob ataque: quais cuidados para conter as ações de cibercriminosos?

por Helder Assis*

Em função do seu crescimento consistente e acelerado, bem como da possibilidade de acesso a dados pessoais sensíveis, o setor de saúde tem sido um dos principais alvos dos cibercriminosos. Esse cenário tem forçado a necessidade de aperfeiçoamento da postura de segurança de informações, de forma a preparar melhor as organizações para minimizar as vulnerabilidades dos ambientes de TI, o que inclui o cuidado com a gestão de acessos e os backups, dentre outros domínios.

Realizar as adequações para acompanhar a expansão nem sempre é trivial, pois estamos falando de serviços de alta disponibilidade, cujas ações que demandem uma parada ou operação em contingência precisam ser muito bem planejadas. Além disso, as fontes e as superfícies de ataques são as mais diversas, sobretudo com a massiva adoção do trabalho remoto, que possibilitou aos cibercriminosos dar mais foco a ações que envolvem engenharia social e redes domésticas, ou seja, fogem do escopo de proteção das empresas.  

Durante esse período, casos de utilização de dispositivos pessoais para atividades corporativas e conexões por meio de redes inseguras e de uso compartilhado aumentaram, além das dificuldades para manter os dispositivos corporativos atualizados e sincronizados com as diretrizes de segurança da empresa. E isso abre, sim, brechas para ataques que afetam diretamente os sistemas e os dados das empresas.

Neste cenário, camadas de proteção tradicionais como firewalls e antivírus corporativos não são mais suficientes. Os desafios, agora, passam por temas diversos que vão desde a necessidade de definição das responsabilidades até a implementação de requisitos tecnológicos. Dentre estes, podemos destacar três grandes preocupações:

  1. Conscientização em Segurança da Informação: como já sabemos, o elo mais frágil nesse processo é o ser humano. Portanto, a organização deve se preocupar em desenvolver um plano forte de conscientização de segurança da informação e privacidade de dados, de forma a aprimorar a cultura nestes temas.
  2. Home office e seus desdobramentos: para que o trabalho remoto seguro seja bem implementado, precisamos ter uma visão do papel do funcionário e, num mesmo patamar de importância, a participação efetiva da empresa. Qual a estrutura que deve ser disponibilizada ao funcionário? Quais são suas responsabilidades, direitos e deveres? Quais serão as formas de monitoramento das atividades, horários e jornada de trabalho? Como deixar claro ao colaborador que, mesmo num home office, ele deve estar atento ao código de conduta e ética de um ambiente corporativo? Esses questionamentos, somados às diretrizes e processos de negócio, não podem passar desapercebidos ao pensarmos em um corpo de normativos com políticas e procedimentos padrões de boas práticas para o tema.
  3. Requisitos tecnológicos: devem ser implementados e monitorados para garantir o mínimo de segurança adequada, visando não só a proteção dos equipamentos, mas principalmente das informações que por eles trafegam e estão armazenadas. Para combater e reduzir a exposição e minimizar os impactos dos cibercrimes, existe um arsenal bastante extenso de ferramentas. Também fazem parte de uma boa rotina de defesa, as atualizações periódicas dos ambientes e políticas de backup e testes de restauração.

Sobre as soluções que devem ser aplicadas, o cuidado vai além dos tradicionais firewalls e antivírus, o que inclui as seguintes adoções: VPN (rede privada virtual) para acesso remoto dos colaboradores; EDR (Endpoint Detection and Response) para bloqueio de ransomwares e criptografia de arquivos nos servidores, desktops e notebooks; DLP (Data Loss Prevention) para garantir a integridade e preservar informações da empresa; WAF (Web Application Firewall) para proteção contra ataques a aplicações; AntiSpam e Cofre de Senha.  

Também é imprescindível que organização possua um SOC (Security Operations Center), que é uma estrutura que realiza o monitoramento contínuo dos eventos de segurança, escalando e mobilizando os times internos em caso de qualquer incidente. Além disso, é essencial que as empresas tenham a visão de que não basta simplesmente implementar ferramentas de segurança sem a definição dos processos e responsabilidades internas que sustentem esse arcabouço tecnológico.

Como vimos, existem boas práticas para implementar medidas de segurança que combatem ataques cibercriminosos. No entanto, não há uma ‘receita de bolo’ a ser seguida, pois cada cenário deve ser avaliado especificamente para que as melhores iniciativas sejam priorizadas de acordo com a necessidade de cada empresa. Entretanto, um programa contínuo de treinamento e conscientização em Segurança da Informação ajudará a elevar a postura de proteção e privacidade de dados dos usuários, assim como um olhar específico sobre os requisitos tecnológicos já disponíveis na organização e aqueles que eventualmente ainda precisam ser planejados e implementados.

 

*Helder Assis é gerente de Cyber Security e de privacidade de dados na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.