por Jefferson Kiyohara*
O Compliance abrange a promoção de uma cultura de integridade e o
respeito às leis, às regulamentações e às políticas internas. É um conceito que
se estabeleceu no mercado. E sustentabilidade? Para ser sustentável precisa ser
verde? É filantropia? É ser contra o capitalismo? É ser uma igreja?
Ainda há a
necessidade de conscientizar as pessoas no tema sustentabilidade, pois há
relação com a economia verde, engloba a preocupação com os impactos junto aos
stakeholders (o que inclui a filantropia), mas é algo ainda mais estratégico e
amplo. Um ponto fundamental é entender que o assunto está relacionado à
perenidade dos negócios e, para isso, ter uma fonte de recursos financeiros é
essencial. Sob a ótica de uma empresa, por exemplo, é ter faturamento e lucro
(ou um investidor que faça o aporte) para conseguir gerar empregos e pagar os
impostos. E não parar por aí. Logo, comparar sustentabilidade com uma igreja
não faz qualquer sentido.
E, então, faço o
link com os conceitos do Capitalismo Consciente. É fundamental desmistificar
que o capitalismo é algo ruim. Houve, sim, avanços da humanidade, de
expectativa de vida, de educação e conhecimento e de tecnologias, entre outros.
Mas, isso não significa que não pode ser aprimorado. O ponto é considerar que o
capitalismo precisa que as organizações tenham um propósito e que contemplem os
seus stakeholders ao tomar as suas decisões. Desta forma, a atenção com os
recursos humanos, naturais e com o planeta, enfim, ganha destaque.
No mundo do
Compliance e do ESG (Ambiental, Social e Governança, em português), é conhecido
o mote que a adoção pode ser por crença, por convencimento ou por coerção. Há
empresas que vão atuar porque identificaram oportunidades atreladas ao seu
propósito, aquelas que serão seguidoras e outras que só irão adotar quando a
lei ou o mercado exigir. Quando falamos sobre o Compliance Sustentável, estamos
tratando de monitorar e acompanhar as tendências e de agir por princípios
éticos, antes que exista a obrigatoriedade legal ou regulatória. Vide a
preocupação de empresas brasileiras com a recente proposta de Mecanismo de
Ajuste de Carbono na fronteira da União Europeia.
As questões
sobre o mercado de carbono e as mudanças climáticas estarão nos holofotes. Mas
quantas empresas já se preocuparam em realizar o inventário de carbono e
construir uma estratégia de redução ou avaliação dos riscos oriundos das
mudanças climáticas? Quantas repensaram seus processos, produtos e serviços
para minimizar ou neutralizar eventuais efeitos danosos, como poluição, geração
de gases de efeito estufa, prejuízo à saúde, entre outros?
Há movimentos
que já estão acontecendo. E uma organização que quer permanecer no mercado
precisa atuar com integridade e Compliance numa abordagem sustentável.
*Jefferson
Kiyohara é professor na FIA e diretor de Compliance & Sustentabilidade na
ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos,
compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de
dados.