Por Marcus Granadeiro
A
indústria de software gosta de mudar nomes, assim como o CAD (do inglês,
Computer Aided Design) mudou para BIM (Building Information Model), os antigos
blocos agora se chamam componentes ou objetos.
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Uma das grandes diferenças do BIM está relacionada à
maneira com que ele lida com estes componentes.
Blocos
são usados desde os primórdios do CAD, mas a automatização que o BIM proporciona em relação aos componentes é algo novo. Há muito
tempo empresas de móveis, louças sanitárias, luminárias, bem como todos os
tipos de fornecedores de equipamentos, disponibilizam bibliotecas para o uso de
seus clientes. Escritórios de projeto se esmeram em criar padrões para carimbos
e personalizar blocos para atender a demandas específicas. Construtoras já têm
blocos padrões para conexões elétricas e hidráulicas das diversas
concessionárias. Ou seja, isto já é praxe no mercado de CAD.
Os
blocos no CAD são desenhos que se repetem inúmeras vezes dentro do mesmo
desenho ou por vários desenhos da empresa. Podem ser de simples geometria ou,
mesmo, conter atributos com propriedades. Com o tempo, foram desenvolvidas
muitas rotinas e programas para usar estes atributos com intuito de automatizar
tarefas, como gerar lista de material e montar tabelas de quantitativos. Em
caso de carimbos, as propriedades, normalmente, são usadas como indexadores de
documentos e podem ser manipuladas por sistemas de gestão documental mais
avançados.
Contudo,
com o avanço do uso do BIM, os fabricantes estão iniciando o processo de
disponibilização dos componentes na Internet. O usuário “baixa” a biblioteca de
componente e a utiliza em seu projeto. Em um primeiro momento parece muito
parecido com o que tínhamos no mundo CAD, mas há um problema, que está
justamente na automatização que o BIM traz em relação aos dados que o
componente possui.
Os
componentes contêm informações que vão além do desenho, das entidades gráficas.
Eles possuem parâmetros e dados que serão levados em conta para simulações,
cálculos e decisões de projeto. Ou seja, a informação contida no componente é
base para que o BIM apresente resultados e faça modelagens, simulações e
cálculos.
Dentro
deste contexto é importante colocar uma questão. Quem será o responsável por um
erro de projeto causado por um componente com propriedades erradas? Não estamos
pensando em catástrofes, pois, obviamente, nenhum projetista confiaria
plenamente em resultados de máquinas para definições e dimensionamentos
importantes. Mas podemos ter casos como um empreendimento não obter uma
certificação de sustentabilidade que a simulação sinalizava possível. Todas,
situações que, certamente, levarão a algum prejuízo.
As
novas bibliotecas precisarão ter um responsável técnico para serem publicadas?
Se não tiverem serão úteis? Poderão ser um “tiro no pé” do usuário? Como
usá-las de maneira confiável? Até que ponto? As empresas que estão publicando
suas bibliotecas estão se preocupando com isto? Os projetistas e construtoras
já se deram conta? Estes são mais alguns desafios para esta nova área que surge
do direito associado com a engenharia.
Marcus Granadeiro é presidente da Construtivo.com,
empresa de fornecimento de solução para gestão e processos de ponta a ponta
para o mercado de engenharia, com oferta 100% na nuvem e na modalidade de
serviço (SaaS).