*por Marcus Granadeiro
O ano de 2016 será um ano emblemático para o Brasil, pois teremos as Olimpíadas. Para o Reino
Unido também será um ano singular, mas por outro motivo: é o novo limite para que todos os projetos públicos sejam
contratados em BIM (Building Information Modeling). Por
incrível que pareça, o legado de uma determinação do governo
britânico deverá ser maior do que o nosso tão falado e custoso legado olímpico.
Ele, inclusive, já fora anunciado pelo governo de lá desde
2011, movimento
que prevê obter um ganho de 20% na construção e
operação de seus edifícios públicos.
Para se ter o BIM em 2016, o governo inglês começou a agir em 2011. O primeiro movimento foi
a publicação de um documento que reconhecia a ineficiência na contratação,
acompanhamento e uso dos edifícios e obras públicas. Este documento também indicava caminhos e metas a serem seguidos. Aspectos contratuais, processos de gestão e, na área de tecnologia, a adoção do BIM para todas as fases do
empreendimento.
Estamos no Brasil acostumados a ver planos governamentais pomposos
e bem elaborados, nada de novo. O interessante é que os esforços do governo de
lá não pararam em um documento com intensões e objetivos declarados. Para que o
BIM se tornasse uma realidade, diversas ações passaram a acontecer,
coordenadas e incentivadas pelo governo.
No campo normativo, um grande volume de normas e guias foram
desenvolvidos. A norma utilizada para gestão do processo de documentos CAD, a
BS 1192 de 2007, foi ampliada criando-se uma família de guias e normas
que passaram a orientar o processo de trabalho em BIM. Surgiram os documentos
PAS1192-2 para a gestão do processo de BIM na fase de projeto e obras, a
PAS1192-3 para a gestão do processo de BIM na fase de operação, a PAS1192-4, que guia a troca de informações através do protocolo CoBIE e a
PAS-1192-5, que indica políticas de segurança digitais para o processo BIM.
As associações profissionais da área, além de
participar intensamente do desenvolvimento das normas, desenvolveram guias e materiais que norteiam as novas relações e
contratos que passaram a ser firmados com a introdução do BIM. A associação de
construção, CIC (Construction Industry Council), lançou um guia para
contratação de seguros para atividades profissionais ao se projetar em BIM e um
protocolo para ser aditivado em contrato de projetistas que forem desenvolver
seus projetos em BIM. Estes dois documentos fornecem um bom embasamento para as
alterações que os contratos de engenharia devem ter ao migrar do CAD para o
BIM.
Em 2013 a associação de arquitetura RIBA (Royal
Institute of British Architects) revisou o seu plano de trabalho já
incorporando o BIM. O novo plano de trabalho já indica novas fases e passa a
tratar do fluxo de informação e não mais do fluxo de documentos, ponto
fundamental para estruturação do processo de projeto em BIM.
Outro grupo de iniciativa que vem colaborando muito com o processo
é a adoção plena do BIM em projetos emblemáticos de
infraestrutura. Adoção de maneira transparente, mostrando a
todos os acertos e erros. É o caso do projeto Crossrail, uma nova linha de
metrô em Londres, cruzando toda a cidade de oeste a leste, passando pelos
principais pontos, ligando o aeroporto internacional ao centro financeiro.
Este projeto foi concebido para ser desenvolvido, construído e
operado com apoio da modelagem e demais conceitos do BIM, está um pouco acima
da metade da construção e, apesar do tamanho e incertezas, dentro do prazo e
custo. Há inclusive uma academia BIM disponível para a comunidade de engenharia com foco no contato com a experiência e no incentivo à propagação para o maior número de pessoas e
empresas.
Com todo este apoio e estrutura, o mercado
inglês vem se desenvolvendo em uma velocidade acima da média nos últimos anos,
conseguindo avançar e crescer em tempos de crise. As empresas inglesas estão
conseguindo exportar know-how e engenharia e os objetivos do governo estão
sendo atingidos. É mais um exemplo da tese que diz que na crise é que estão as
oportunidades.
*Marcus Granadeiro é engenheiro
civil formado pela Escola
Politécnica da USP, presidente da Construtivo.com, empresa de
tecnologia com DNA de engenharia. Pioneira no conceito de nuvem, desde 1999
atende os maiores projetos de infraestrutura do Brasil, sócio-diretor do
ConstruBIM, empresa especializada na consultoria de projetos em BIM do Grupo
Construtivo, e membro do ADN (Autodesk Development Network)