Visão e valores
dispersos e desalinhados é a falha mais presente na
gestão sustentável de 79% das companhias entrevistadas
A DOM Strategy Partners,
consultoria 100% nacional focada em estratégia corporativa, identificou os dez
erros mais representativos em sustentabilidade nas empresas. A pesquisa foi
baseada em entrevistas realizadas com os executivos de 223 das 500 maiores
empresas do País durante os meses de fevereiro a junho deste ano.
Entre as falhas mais
recorrentes presentes nas práticas de sustentabilidade das companhias, visão e
valores dispersos e desalinhados aparece como o erro mais comum em 79% das
empresas analisadas pela DOM. Mensuração inexistente, comunicação oportunista e
falta de realismo também aparecem na pesquisa.
Segundo Daniel
Domeneghetti, autor do levantamento e CEO da DOM Strategy Partners, a
sustentabilidade finalmente tem deixado paulatinamente de ser enxergada apenas como
custo para as companhias e já está presente no rol dos ativos intangíveis,
devido à introdução de valor aplicado ao conceito e à sua maior
conexão ao negócio, ao core business das empresas.
Entretanto,
infelizmente, em períodos de dificuldade macroeconômica ou mesmo setorial, a
Sustentabilidade como área ainda paga o preço de ser enxergada pelos executivos
de negócio e mesmo acionistas como algo desejável, mas não urgente; secundário,
ainda que estratégico. Decorrência disso, muitas empresas grandes vêm cortando
posições, investimentos e práticas em suas respectivas áreas de
Sustentabilidade, à luz da situação atual dos mercados e das perspectivas
negativas para a economia brasileira.
“Houve um avanço
tanto na compreensão quanto na atuação das empresas para trazer conceitos
sustentáveis para o ambiente das grandes preocupações corporativas. Esse
movimento reflete bem no estudo, pois percebemos, que mesmo havendo erros, os
líderes estão cientes de que sustentabilidade é uma fonte de valor, inovação e
diferenciação no mercado”, diz Domeneghetti.
Os dez erros da sustentabilidade nas empresas apontados em percentuais na pesquisa foram:
1- Visão e valores dispersos e
desalinhados (79%) -
O conceito de sustentabilidade é restrito a apenas um departamento ou uma
liderança, sem permear toda a empresa o que impossibilita a compreensão de
todos os colaboradores, causando a dispersão e diversidade na discussão do
tema. As ideias que surgem espontaneamente devem ser direcionadas de forma
correta, sem ser reprimidas. O alinhamento a uma mesma ambição é essencial e
deve vir de cima.
2- Inconsistência de governança (74%) – Apesar de admitirem sua importância,
as empresas ainda tratam a sustentabilidade como uma prática solta dentro da
empresa. Mesmo com todo o discurso, o tema ainda não ganhou o apoio das
lideranças. Além disso, não existem sistemas de gestão bem estruturados
(executivos, orçamentos, metas, responsabilidades, entre outros). Um dos
agravantes dessa situação é quando a gestão do conhecimento de
sustentabilidade, um dos principais elementos viabilizadores, não existe e o
conhecimento se encontra disperso e implícito.
3- Mensuração inexistente (72%) – Esse erro ainda é um dos mais citados
devido à quantidade de empresas interessadas em implementar estratégias ou
iniciativas de sustentabilidade, mas que não conseguem fazer de forma adequada.
Os aspectos tangíveis, intangíveis e a devida mensuração são ignorados e
interferem diretamente nos resultados. A pesquisa aponta que isso é reflexo da
baixa maturidade da governança do tema em muitas empresas.
4- Inconsistência na fixação de
prioridades (65%) – A
sustentabilidade pode não atingir os objetivos de todos os envolvidos, devido
às prioridades desencontradas, seja por falta de materialidade (aspirações,
desejos e ideais pouco factíveis) ou relevância. Dessa forma, gera frustração e
resultados pouco tangíveis para a empresa ou, até mesmo, prejuízos financeiros
e de reputação.
5- Dissociação do core business (62%) – O negócio principal da empresa
precisa ser inserido na estratégia de sustentabilidade. Apoiar causas que se
distanciam de seu propósito, práticas, processos, produtos e serviços centrais
minimizam o impacto das ações e prejudica as perspectivas.
6- Comunicação oportunista ou ineficiente
(61%) - A comunicação
é parte fundamental da estratégia, pois se for inconsistente, pode não engajar
o público interno e ser insuficiente para os demais stakeholders. Pior ainda,
pode ser vista como uma ação oportunista, prejudicando a credibilidade da
empresa e suas iniciativas. Investir na comunicação responsável e contínua é a
melhor saída que existe para mitigar o risco e atingir os perfis certos. As
empresas devem conhecer bem seus diversos públicos, adequando a linguagem, o
canal e a abordagem a cada um.
7- Miopia em relação aos resultados
potenciais (61%)–
Ainda não são claras para as empresas as oportunidades de gerar e proteger o
valor oriundo das iniciativas de sustentabilidade. Mais do que obrigação por
pressão social, o conceito precisa ser um motor facilitador para a inovação,
eficiência operacional, diferenciação dos competidores e fonte adicional de
receitas por novos produtos, serviços ou canais.
8- Baixa percepção de impacto sistêmico
no entorno (51%) - Os
impactos sistêmicos (ou bilaterais) da sustentabilidade, sejam da empresa para
os stakeholders ou o inverso, ainda não são percebidos com facilidade pelos
executivos. Por essa razão, não são aproveitadas as ideias provindas do entorno
da empresa, reduzindo o potencial impacto decorrente da sinergia entre esses
dois polos.
9- O viés unidimensional (39%) - O equilíbrio entre as dimensões
ambientais, sociais e econômicas (e em alguns casos as culturais) são o que
norteiam a sustentabilidade corporativa. Os pesos e a importância são
determinados de acordo com as prioridades de cada companhia. Caso uma das
dimensões não seja incluída no projeto, o resultado final não trará benefícios,
mesmo que em curto prazo pareça dar certo, pois dificulta o planejamento e não visa
a todos os stakeholders.
10- Falta de realismo (43%) - Toda e qualquer iniciativa sustentável
precisa ser planejada de acordo com o segmento e estratégia de atuação da
empresa. De outra forma, corre-se o risco de traçar metas distorcidas com a
realidade e os resultados tendem a ser subvalorizados.