por Kleber Eduardo de Oliveira*
São
Paulo, julho de 2016 – O avanço tecnológico expressivo dos últimos anos motivou
grandes mudanças dos hábitos da sociedade, especialmente em relação às noções
de tempo e de espaço. O mercado financeiro foi um setor muito impactado e
contou com inúmeros benefícios.
É
até curioso relembrar que, há poucos anos, as transferências bancárias
demoravam dias para ser realizadas. Outro exemplo são os pagamentos com cartão
de crédito, que eram feitos por boletos e criavam uma cópia com papel carbono
do cartão e eram preenchidos à mão com os valores da compra. Nessa época,
parcelamento da compra no cartão não era sequer oferecido pela impossibilidade
de realizar essa operação. São todos exemplos que mostram grandes mudanças
propiciadas pela tecnologia.
Nos
dias de hoje, em apenas segundos é realizada uma transferência de recursos
financeiros entre contas pelo processo de emissão de TED. Devemos isso ao
avanço do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), que permitiu enormes ganhos
de agilidade das transações. E, então, diante dos benefícios oferecidos pela
tecnologia, sem perceber, os hábitos foram se transformando e se incorporando
ao dia a dia.
Também
por consequência dos benefícios tecnológicos, a mobilidade é um caso à parte,
pois em qualquer ponto do planeta que tenha conexão à internet é possível
realizar uma transação no mercado financeiro.
Diante
deste cenário, que trouxe incomensuráveis benefícios, há um contraponto: os
governos e instituições financeiras ficaram vulneráveis, expostos, pois o
controle das transações não aconteceu com a mesma velocidade. Diversos
países e entidades financeiras foram afetados e grandes danos foram
causados.
Como
medida de saneamento, os governos e entidades financeiras criaram diversas
regras e sistemas de controle, compliance e risco, embora não na mesma
velocidade, se relacionarmos aos avanços tecnológicos, mas eles têm muita
força.
Hoje,
temos governos e instituições financeiras criando e implantando métodos e
sistema de identificação da origem dos recursos financeiros e processos de
identificação de riscos, objetivando fortalecer a segurança de suas informações
e operações.
Os
mecanismos regulatórios do sistema financeiro tendem, cada vez mais, a torná-lo
mais conservador. Por exemplo, neste momento se aproxima a implantação do IFRS9
pelo International Accounting Standards Board, razão de alavancagem definida
pelo Comitê da Basiléia de Supervisão Bancária.
No
caso do IFRS9, as entidades financeiras deverão desenvolver métodos e controles
próprios dentro de suas características, assegurando que o resultado das
estimativas de perdas dos instrumentos sejam contabilizados de forma razoável,
além de antever possíveis sinais de inadimplência. Caso não ocorram mudanças, a
previsão para efetivar a IFRS9 será em 31 de dezembro de 2018, data em que as
demonstrações financeiras irão apresentar estes resultados.
O
outro impacto deve-se ao índice de alavancagem definido no Acordo da Basiléia
III, que define uma nova equação que se configura da seguinte forma: cálculo de
alavancagem sobre Capital de Nível 1, a qual a apuração é mensal e publicada
trimestralmente. Atualmente, sua média tem o valor de limite mínimo de
referência a 3% até o final de 2016, após esta data este valor será revisto.
O
escopo tende a ficar mais rigoroso a cada revisão. Atualmente, o tratamento de
derivativos, transações de financiamento em valores mobiliários SFTs
(Securities Financing Transactions) e seus colaterais devem ser entendidos como
operações compromissadas. Assim, estudos estão sendo desenvolvidos para
encontrar a melhor exposição desta contabilização.
As
entidades financeiras em geral possuem sistemas ajustados para avaliação
do cliente e seus produtos, em diversos graus de sofisticação. Referidos
sistemas respondem às necessidades de cada instituição, com a implantação das
regras risco e capacidade. Vários dos já existentes deverão passar por um
processo significativo de atualização, chegando ao limite de substituição.
Notoriamente,
a capacidade de processamento de informações tem incrementado nos sites
tecnológicos das instituições, pois com estas novas necessidades de informação,
principalmente no que se refere à análise de risco e capacidade, certamente
devem realizar um grande investimento em novos desenvolvimentos e infraestrutura
de processamento.
As
entidades financeiras podem implementar ou desenvolver sistemas que atendam aos
controles internos em face da implementação das regras expostas. Isso com
certeza demandará novos modelos de dados, processos e certamente novos cenários
de testes de stress nos seus sistemas de risco e compliance.
*Kleber
Eduardo de Oliveira é head funcional de Mercado de Capitais da GFT Brasil,
companhia de Tecnologia da Informação especializada em Digital para o segmento
financeiro