*Carlos
Guimar Fonseca Junior
A sensação de
insegurança vivenciada pela população brasileira é o maior indicador de que a
crise da Segurança Pública é superior ao que tomamos conhecimento por meio de
indicadores apresentados pelas autoridades constituídas através de notícias
veiculadas nos diversos canais de comunicação em chamadas e manchetes que
destacam a violência.
Na última década, o
fator Segurança Pública passou a ser considerado o principal desafio dos
governantes em todo o país. Embora o caos esteja instalado, a modalidade de
crime de roubo de cargas chama a atenção e ganha destaque negativo.
A degradação da força do
estado de direito em segurança e a crise econômica, somada a uma população
carente desassistida, formam o ambiente propício para a prática desta
modalidade de crime. A polícia possui especialização para atuar no tráfico
de drogas, roubos a bancos, sequestros e outras modalidades, mas não
está preparada para o combate específico ao roubo de cargas. Neste caso, soma a
falta de coesão na especialização e o desinvestimento em função da crise
financeira.
A interceptação de
veículos de carga que transportam mercadorias diversas, envolvendo inclusive o
sequestro de motoristas sob grave ameaça, tornou-se uma prática comum e, cada
vez mais, especializada. Empresas, embarcadoras ou
transportadoras buscam proteção, contudo, é evidente o aumento da vontade
e da capacidade de organizações criminosas em cometer este tipo de delito,
aprendendo inclusive a utilizar tecnologias inovadoras para burlar as
tecnologias adotadas com o propósito da proteção, como é o caso do uso de
dispositivos como o jammer, que corta o sinal dos rastreadores de
veículos.
Adicionalmente, esses
criminosos contam com facilitadores, como o conhecimento de rotas
alternativas, pouco visitadas pela polícia, e o apoio de uma boa parte da
população que percebe esta prática como benefício, pois consegue acesso a bens
e produtos de qualidade, seja por doação realizada pelos criminosos -
efeito Robin Hood de conquista - ou por ter a oportunidade de adquirir
produtos por preços muito menores do que os praticados no mercado.
O resultado mais
evidente é ter o Brasil como líder na taxa de roubo de cargas, sendo a mais
alta da América Latina e constar entre as mais altas do mundo, segundo a
BSI Supply Chain Services and Solutions. No estado do Rio de Janeiro, por
exemplo, os roubos aumentaram mais de 150% nos três últimos anos, causando
prejuízos financeiros astronômicos para as empresas e também para o estado,
cuja perda ocorre por diminuição na arrecadação de impostos.
Engana-se quem pensa que
este cenário se aplica apenas a grandes centros urbanos como Rio de Janeiro e
São Paulo. Esse fenômeno atinge igualmente todas as regiões do nosso
país. E a insuficiência da autoridade pública não sinaliza melhorias. Com
isso, o aumento de custos operacionais e com as seguradoras, assim como a
preservação da imagem e do market share estão impulsionando as empresas
a aprimorarem suas barreiras de segurança.
Utilização de veículos
blindados, rastreamento via satélite com inteligência anti-jammer,
rotas seguras, planos robustos de gerenciamento dos riscos, dentre outras
medidas, apontam como a melhor forma de promover a redução de perdas. Para que
o uso combinado destas práticas produza efeitos reais é necessário e
fundamental contar com apoio técnico especializado que integre os sistemas e
opere com eficiência.
Dificultar a ação de
bandidos, tonando-se um alvo menos fácil, já não é suficiente. É
necessário desestimular a ação criminosa e tornar a atividade menos
atrativa. Empresas que ainda não trilham estes caminhos devem repensar
com urgência suas práticas de segurança e proteção aos riscos a que estão
expostas.
Investir na proteção e
na segurança ainda é mais seguro e econômico do que repassar os custos das
perdas para o cliente ou negociar o compartilhamento deste custo social com
empresas seguradoras, que já atuam de forma mais criteriosa, inclusive
indicando a contratação de empresas especializadas em gestão de riscos, ou
mesmo, não aceitando realizar a cobertura das cargas.
E vale ressaltar que as
grandes empresas não são as únicas que sofrem com este cenário. Há casos de
roubos de menor valor, conhecidos como crimes de oportunidade, que causam
prejuízos incalculáveis para pequenas e médias empresas que tem suas
cargas roubadas aleatoriamente.
A máxima “prevenir é
melhor do que remediar” precisa ser aplicada. É prudente que as empresas
contratem serviços especializados que as tornem menos suscetíveis a roubos e à
violência, em vez de esperar o registro de grandes prejuízos para dar atenção a
esta situação. Afinal, além da perda financeira, há vidas envolvidas nestas
atividades e é impossível repor este tipo de perda.
*Carlos Guimar Fonseca Junior é gerente
de segurança da ICTS, empresa especializada em consultoria, auditoria
e serviços em gestão de riscos, que possui ampla atuação no mercado de gestão
de riscos, auditoria interna, compliance, gestão da ética, prevenção à fraude e
gestão da segurança.