*Por
Carlos Guimar
Outro dia
em um bate papo informal escutei o seguinte comentário: “A Polícia mantinha a
ordem no asfalto enquanto o crime estava no morro. Esta mesma polícia resolveu
subir "o morro" e o crime veio para "o asfalto". Ao ouvir,
me indaguei: “Veio? Realmente foi isso?”
Não se
tem dúvidas de que sempre houve prioridade e que tratar o crime nas áreas
carentes sempre ficou em segundo plano e, desta forma, os marginais ali se
colocaram. As prioridades políticas associadas à falta de estratégias, com
pouca inteligência em todas as suas vertentes, geraram uma catástrofe que hoje
se apresenta diariamente.
Respondendo
as perguntas iniciais, o crime nunca saiu das comunidades e aproveitou as ações
desestruturadas para também dominar os demais perímetros urbanos até então sob
o controle do Estado.
E sabe o
porquê? Na primeira vez houve uma intenção. Basta lembrar das ações políticas e
cinematográficas das retomadas das áreas em poder dos traficantes por volta de
2010. Para não ter confronto não houve as prisões necessárias. Recordar daquela
cena dos bandidos fugindo para alguns foi gratificante, porém aquilo foi ruim.
Aquele
único tiro disparado no Complexo do Alemão, que alvejou um marginal que foi
arrastado por comparsas, mostrou que poderiam ter sido encurralados, presos e
tratados dentro da lei. Outros pontos negativos foram os anúncios anteriores as
operações onde parte dos bandidos conseguiram se movimentar e armas puderam ser
escondidas ou remanejadas. Também não houve inteligência e buscas posteriores
aos marginais fugitivos. Vieram apenas propagandas políticas de uma falsa paz.
Na verdade, o que houve de fato foi um "pisão no formigueiro".
Bandidos
e armas para todos os lados e o crime se espalhou a vontade. Em paralelo, o
Estado não se preparou. Ao contrário, se deu por satisfeito, houve
desinvestimento e, ainda por cima, veio junto a crise financeira agravada pela
corrupção.
Corrupção
esta que alavancou uma crise moral e ética. Para piorar, os marginais, de forma
organizada (não fazendo apologia a criminosos, mas é prudente reconhecer que o
crime é organizado) utilizaram de inteligência para suas missões.
Estratégicos,
eles começaram a trazer armas e munições, a cooptarem desempregados e
desestabilizaram em todas as pontas, roubando pessoas nas ruas, seus carros,
explodindo caixas eletrônicos, roubando cargas e como bola de neve na crescente
mais armas e mais pessoas. Embaralhado a isso os agentes da segurança pública
foram colocados de um lado para o outro, e pouco efetivo, sem salários e com
greves. Pronto! Aos poucos fortalecidos os marginais passaram a não ter mais
limites.
Analisando,
a segurança pública foi encarcerada junto com a população que sem ter como
combater o crime veio (e vem) infelizmente contando a morte de policiais. Por
isso, a intervenção é, sem nenhuma dúvida, bem-vinda e extremamente necessária.
O que se espera como primeiro passo é sair do campo da política e partir para a
seara da estratégia e de combate.
O ponto
de entendimento fundamental é saber que o planejamento é necessário, mas
necessitamos do ver e agir. No mais, estaremos cometendo a mesma falha ao
deixar que os bandidos fujam, que desloquem suas armas para áreas estratégicas.
Na
sequência é necessário entregar segurança para quem sabe e tem disposição para
fazer segurança, pois não há como negar que confrontos ainda ocorreram e serão
necessários. Tem que confrontar, estruturando e entregando a polícia para quem
sabe e gosta de ser policial. As Forças de Segurança Pública são excepcionais e
devem ser a ponta neste teatro de operações, lançando os quadros e serviços
para apoiar e, acima de tudo, ter o seu suporte forte do líder, mantendo o
respeito, a ordem e o compliance.
O último
passo importante é pensar em futuro já estruturando com planos sólidos e
transparentes que devem ser divulgados, uma vez que a população conhece ela
controla. Não se pode errar, estamos no mais alto nível para solução,
precisamos de uma intervenção e não de uma nova intenção, temos que acreditar e
apoiar, afinal todos juntos somos o braço forte e a mão amiga para o Rio voltar
a ter tempos de paz.
* Carlos Guimar Fonseca Junior é gerente de
segurança corporativa na ICTS Security, empresa de consultoria e gerenciamento
de operações em segurança, de origem israelense.