Por Daniel
Domeneghetti*
A quarta revolução
industrial gera um efeito determinante sobre o ânimo das empresas em relação à
área de RH. A grande mudança contempla a necessidade de que o departamento de
Recursos Humanos assuma um papel cada vez mais estratégico nas organizações.
A constatação é do
levantamento que fizemos (estudo exclusivo da DOM Strategy Partners), realizado
com 594 vice-presidentes e líderes de RH de grandes companhias instaladas no
Brasil. A mesma pesquisa aponta que para 78% dos entrevistados a questão humana-profissional nas
empresas deverá receber menos investimentos do que o necessário. O foco
será em recursos, principalmente os tecnológicos.
Com isso, a empregabilidade vira um diferencial
tema relevante quando se trata das tendências do trabalho e seu relacionamento
com as organizações empresariais. O próprio termo, por si só, muda o enfoque
convencional do emprego e também em como o RH deve se preparar para captar e
potencializar o novo colaborador, fruto da era digital.
Empregabilidade relaciona-se à capacidade
de um indivíduo manter-se empregável ao longo do tempo, mesmo que
potencialmente, e não de estar empregado, ou de simplesmente conseguir um
emprego.
Isso requer, dentre outros,
atualização contínua, curiosidade focada, abertura ao novo, disciplina,
autonomia, diferenciação real percebida em alguma habilidade ou conhecimento e
boa dose de empreendedorismo.
Para se ter uma correta ambientação,
faz-se necessária uma extrapolação do conceito de empregabilidade no sentido de
relacioná-lo também à atividade empresarial que, a cada vez mais, deve se
caracterizar como a alternativa mais consistente para muitos dos profissionais
de alto nível.
Os efeitos da transformação digital, intimamente ligados à globalização, e internetização e do consequente acirramento da competitividade, geraram e, continuarão gerando, mudanças significativas nas estruturas organizacionais das grandes corporações, que terão consequências importantes de qualificação associada à redução dos quadros de funcionários. Em linhas gerais, menos gente, melhor, fazendo mais coisa que mais gente pior, fazendo menos coisa.
A opção por tentar se empregar em uma
corporação parece restrita até porque este efeito de redução qualitativa deverá
ser generalizado.
Sendo assim, o termo empregabilidade,
no atual contexto, refere-se a manter-se trabalhando e ser remunerado
compativelmente por isto. Ou seja, garantir valor pessoal que seja reconhecido
e relevado como base de sustentação para a troca financeira representada pela
remuneração/compensação.
Este conceito de valor já sugere uma
das características importantes da empregabilidade. Se uma empresa deve vender
valor e, se todas as pessoas ligadas à mesma devem desempenhar atividades que o
incrementem, então empregável será o profissional de iniciativa que conseguir
entender o negócio da companhia como um todo e focalizar seu trabalho
justamente nas atividades de valor reconhecido.
Um dos aspectos mais discutidos acerca
da empregabilidade é a abrangência do conhecimento do profissional. Trata-se da
disputa entre a visão generalista e a técnica. O que se percebe, hoje, é que
todas as empresas vão precisar de generalistas e técnicos em seus quadros.
O ponto crítico da questão é que não
adianta ser um generalista arbitrário e, nem tampouco, um técnico com visão
curta.
Em outra análise, é possível se traçar
um padrão em que a chave para o sucesso profissional não é o grau de
especialização, mas, sim, o grau de adaptabilidade. O que as empresas e o
mercado procuram são pessoas que tenham uma alta capacidade de se adaptar, de
absorver conhecimentos e incorporar habilidades rapidamente, de modo a se
adequar às mudanças, atualmente tão repentinas.
Adicione-se a isto à necessidade de
aprendizagem e “desaprendizagem” contínuas e, por que não dizer, instantâneas.
Como característica adicional básica
da empregabilidade a ser discutida encontra-se a postura individual, a famosa
atitude do profissional em relação ao trabalho. Esta postura é um complemento
profissional marcante ao conhecimento e às habilidades.
A base para um processo de delegação
de autonomia sem necessidade de muito controle e do estabelecimento consistente
de boa liderança é trabalhar com pessoas que façam com que as coisas aconteçam
por suas próprias mãos.
No final do dia, somando tudo o que
foi dito anteriormente, empregáveis são aquelas pessoas que não precisam
esperar uma ordem de alguém, que está esperando a decisão de um superior que,
ao que parece, está incomunicável numa viagem de discussões estratégicas nas
águas do Caribe.
*Daniel Domeneghetti é especialista em estratégia
corporativa e CEO da E-Consulting, consultoria 100% brasileira, líder em
criação, desenvolvimento e implementação de serviços profissionais em TI,
telecom e internet.