Por Daniela Coelho*
Quando falamos que há quem aprenda
lições com amor e outros com a dor, normalmente as pessoas tomam decisões e
medidas somente quando são impactadas negativamente e, no mundo dos negócios,
essa máxima também é presente. A chegada do Covid-19 no Brasil nos colocou numa
crise jamais vista por se tratar de uma pandemia, sendo a última nesses moldes
ocorrida há 100 anos.
E aí fica a pergunta: as empresas
estavam preparadas para lidar com essa situação, que forçou a maioria delas a
adotar procedimentos que, talvez, nunca tinham sido testados? A grande questão
é que muitas delas não se preparam para incertezas como deveriam.
Numa pesquisa realizada durante um
encontro virtual para discutir planos de gestão de crise, a qual participaram
170 respondentes, 40% apontou que a empresa não possuía um Plano de
Continuidade de Negócios (PCN) formalizado, ou seja, aquilo que precisava estar
na agenda dos executivos não se faz presente e, pior, se espera a crise
acontecer para definir um plano. Porém, 80% disse possuir um comitê de crise,
uma resposta incompatível com o dado anterior. Possivelmente, esses grupos
devem ter sido criados por conta do Coronavírus.
Outro dado curioso foi o questionamento
feito sobre a empresa ter passado por um cenário de ruptura nos últimos dois
anos. Curiosamente, a maioria - 62% - respondeu que não. Ora, tivemos uma
crise causada pela greve dos caminhoneiros, que impactou no fornecimento de
vários itens, entre eles, combustível, alimentos e insumos médicos. Além disso,
tivemos o WannaCry, maior ataque de ransomware da história, que afetou
hospitais, fábricas, companhias aéreas e órgãos públicos, somando 230 mil
computadores afetados em 150 países.
Isso significa que as ações acabam sendo
definidas com a iminência de uma crise ou de acordo com sua evolução. Por
exemplo, ao perguntar se a empresa estava preparada para reagir à crise do
Coronavírus e com qual ação, 89% apontou o home office, ou seja, foi a medida
com mais aderência, mas possivelmente não havia sido testada e, sim, adotada
conforme as decisões do mercado. Assim, havia o risco de não funcionar, de não
haver equipamentos suficientes ou até mesmo os funcionários não
terem internet com as especificações necessárias para acessar os sistemas
das empresas.
Fato é que tomar ações
apenas durante uma crise em curso pode levar à morosidade e a perdas
significativas. Ter uma lista de ações somente neste momento não
significa ter um plano de continuidade dos negócios. A tomada de
decisão acaba sendo baseada em medidas reativas e de respostas
ao cenário dado, e não a um planejamento prévio.
Não estamos dizendo que a empresa não
deva redirecionar o curso durante a crise. Mas, ao ter um plano prévio,
ela pode ter um guia inicial de como se organizar em situações de crise e
ruptura. Portanto, cabe aqui uma análise sobre o que vivemos neste momento, que
é uma situação extrema, e quais medidas devem ser tomadas. Não se deve
esperar o próximo problema chegar para se tomar uma decisão. Os planos de
continuidade e gestão de crise precisam ser colocados na agenda executiva e,
mais importante, precisam ser realizados.
*Daniela Coelho
é diretora associada de riscos e performance na ICTS Protiviti, empresa
especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna,
investigação, proteção e privacidade de dados.