*por Pedro
Barra
Agosto de 2020 – Diante da pandemia, em meio ao
isolamento social, testemunhamos a proliferação das tele-experiências em nossas
vidas. O teletrabalho, por exemplo, que era uma realidade consistente para
poucos casos e tornou-se normal, a tele-educação, que ganhou uma nova escala,
impulsionada fortemente pelo fechamento das escolas e universidades, e o
tele-entretenimento, com as inúmeras lives de artistas e visitas virtuais a
espaços culturais.
Chegamos então à telessaúde, que também ganhou
escala a partir do sancionamento da Lei 13.989, que autorizou o uso da
telemedicina enquanto durar a crise ocasionada pela Covid-19. A telemedicina se
encaixou perfeitamente ao momento atual, aliviando salas de pronto-socorro,
esvaziando consultórios e surgindo como uma alternativa para a redução do risco
de transmissão do vírus entre médicos e pacientes. Não se trata de uma mudança
em condutas ou responsabilidades, mas sim de novos métodos para a entrega de
cuidados.
Aplicativos de mensagens, voicebots, chatbots,
algoritmos para triagem, prescrição médica e emissão de laudos remotos são
alguns dos recursos que passaram a ser aplicados mais amplamente no contexto da
Covid-19, trazendo também uma maior eficiência operacional demandada neste
momento. Porém, ainda atravessamos um período de experimentação da
telemedicina, em especial das teleconsultas.
Com a popularização das ferramentas de
videoconferência, houve um movimento natural para utilizá-las em teleconsultas.
Tais ferramentas já são bem difundidas, com acesso fácil e rápido por uma parcela
relevante dos potenciais usuários, e contemplam os recursos básicos necessários
para viabilizar o contato entre os profissionais de saúde e os pacientes.
Entretanto, há aspectos importantes a serem considerados para que a entrega de
cuidados seja feita com segurança em um ambiente virtual. É necessário realizar
a preparação dos pacientes, profissionais e instituições de saúde, deixando
claros os pré-requisitos, as orientações e as limitações para uso da
telemedicina.
No que tange à conformidade, é preciso aderir às
legislações, resoluções e normativos para garantir o registro de informações
clínicas e a privacidade e proteção dos dados. E, por fim, para atender à
demanda com eficiência operacional, é preciso investir em plataformas e
infraestrutura de tecnologia que garantam estabilidade e escalabilidade.
Novamente, não podemos esquecer de colocar o
paciente no centro. A telemedicina foi autorizada temporariamente no contexto
da Covid-19, mas veio para ficar. Os primeiros dados apontam que os pacientes,
em sua maioria, sentem os benefícios diretos de poder contar com esta
alternativa para receber cuidados médicos. E, certamente, boa parte dos
pacientes e médicos continuarão a utilizar este canal no período pós pandemia.
Com a devida preparação, uma teleconsulta pode
ser mais pessoal do que uma consulta presencial. A telemedicina pode
proporcionar uma ótima experiência para o paciente e ainda trazer ganhos de
performance para médicos e instituições de saúde.
Para tanto, devem ser considerados os aspectos de
gestão da mudança nas instituições de saúde, adaptando seus processos,
políticas, protocolos e tecnologias para a telemedicina, como a construção da
trilha digital dos pacientes e médicos, partindo do onboarding, provendo
treinamento e informações claras; a definição e acompanhando dos indicadores de
qualidade, performance e engajamento e a gestão dos riscos associados a este
novo canal de interação nas camadas de privacidade e proteção de dados,
tecnologia, pessoas e processos.
Demos um passo importante rumo à evolução da
telessaúde, mas certamente há muitas incertezas e pontos que serão ajustados ao
longo do tempo, em especial nas camadas legais e regulatórias. Isso traz
grandes riscos, como também gera grandes oportunidades para os que
estiverem dispostos a uma verdadeira transformação organizacional. Estruturar a
governança sobre o tema, mantendo-se aberto e atento às necessidades dos
pacientes e médicos, é fundamental para adaptar-se rapidamente às mudanças,
criar uma vantagem competitiva e pavimentar o caminho na jornada da telessaúde.
* Pedro Barra é gerente sênior de
riscos e performance da ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para
gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e
privacidade de dados.