*por
Filipe Lemos
Muito tem se falado nos últimos meses sobre como
questões ambientais e sociais ganharam maior importância para investidores e
consumidores no pós-pandemia. Casos recentes mostram o quanto os impactos de
questões ESG (Environmental Social Governance) em partes interessadas, sejam
elas positivas ou negativas, retornam às empresas com reflexos em termos
financeiros.
Quando falamos de impacto negativo, veja, por
exemplo, a falta de ação do Facebook em relação aos posicionamentos racistas
nas redes, que acabou ocasionando uma debandada de grandes empresas que traziam
recursos financeiros através de contratação de propagandas no aplicativo.
Por outro lado, a Natura recentemente elaborou uma
campanha de marketing para o dia dos pais abordando o tema de diversidade e
inclusão, que imediatamente gerou uma reação do mercado com uma valorização de
6,73% nas suas ações.
Porém, um questionamento que irá ganhar cada vez
mais relevância entre a alta administração das empresas é “como saber o que é
relevante para a análise dos investidores e stakeholders?”. Neste contexto, é
importante ressaltar o conceito de materialidade e aplicação para questões do
ESG. O termo materialidade já é amplamente utilizado nas empresas para definir
as informações que são úteis para a tomada de decisão, porém, até o momento, o
foco tem sido específico para informações contábeis e financeiras.
Porém, como os stakeholders, incluindo os
investidores, vão saber se as empresas estão informando apenas temáticas que
lhes favorecem do ponto de vista do ESG e omitindo outras informações
relevantes que poderiam reverter em impacto financeiro negativo, prática
conhecida no mercado como greenwashing, ou seja, quando há uma
estratégia de marketing enganosa no produto ou serviço.
Buscando mitigar esta prática e permitir
avaliações efetivas pelos diversos públicos interessados é que foram criados
modelos e padrões que permitem maior transparência nas informações e relevância
aos stakeholders, além de possibilitar a comparação de desempenho do ESG ao
menos para empresas da mesma segmentação de mercado. Os modelos e padrões são
selecionados para comunicar de forma efetiva com cada stakeholder, dependendo de
seus interesses.
A utilização dos padrões SASB (Sustainability
Accounting Standards Board), por exemplo, permite ao stakeholder identificar
questões materiais de ESG em 77 tipos diferentes de indústrias baseado em
diversas temáticas, como gestão de recursos hídricos, poluição do ar, ética nos
negócios, ciclo de vida dos produtos, gerenciamento da cadeia de fornecedores,
direitos humanos, segurança dos dados, qualidade e segurança dos produtos,
segurança do trabalho, diversidade e inclusão, entre outros. Logo, para cada
segmento de indústria, existe um padrão de informações relevantes que têm uma
métrica definida de divulgação, permitindo a comparabilidade entre empresas.
Utilizando estes padrões como referência, o
investidor terá um guia para entender que, para o segmento da indústria
química, por exemplo, a questão de poluição do ar é muito relevante, mas sem se
esquecer o respeito aos direitos humanos através de processo de engajamento
para gerenciar riscos e oportunidades associados aos interesses da comunidade,
que também é importante para o segmento.
Vale salientar que os padrões SASB são
referenciais elaborados por meio de estudos e pesquisas em empresas e
stakeholders ao redor do mundo e que devem ser complementados com avaliações de
maturidade em cada empresa e cada região para agregar informações adicionais
consideradas relevantes.
Os padrões e frameworks ESG podem e devem ser
utilizados a fim de estruturar as informações de maneira transparente e
comparável com empresas de mesmo setor aos diversos públicos e é necessário
estar atento para escolher aqueles que mais se adequem à estratégia e
necessidade de comunicação da empresa.
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Filipe Lemos é consultor sênior na ICTS Protiviti,
empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria
interna, investigação, proteção e privacidade de dados.