por Fausto Motter*
Março de 2021 – A maior prova da teoria da História Cíclica são
os jargões e hypes que nascem para justificar movimentos corporativos, porém,
ao final de um período, se esgotam neles mesmos, somem, como que por mágica,
para serem substituídos por outros termos sempre mais inovadores e, agora, mais
disruptivos.
A inovação tem várias faces, partindo da criação
ou da melhoria de um produto ou serviço. O mundo seguirá consumindo aço,
minério, cimento e as indústrias de transformação seguirão relevantes.
Neste contexto, o desafio é encontrar as oportunidades de melhoria aderentes em
uma agenda de transformação digital. Diferente dos hypes anteriores, este não
passa por "implementar uma tecnologia nova", mas, de forma
multidisciplinar, construir uma identidade de negócio e um método que, junto à
tecnologia, consiga melhorar ou reinventar alguma coisa já existente.
Não estamos falando de uma ferramenta ou de um
caminho único, e não faz sentido falar de agenda futura sem colocar as
atividades do presente em foco. Precisamos revisitar os conceitos e direcionar
as corporações para o sentido das empresas inteligentes e autônomas. Falar em
transformação digital com o rigor conceitual necessário passa, inclusive, por
reinventar negócios. Falar em empresa inteligente e empresa autônoma são temas
por vezes muito mais simples de se efetivar e, em alguns casos, com um impacto
tão grande quanto em todos os atores corporativos; incluindo suas relações.
Recentemente, junto a um grupo de estudo, foi
realizada a análise de um processo comercial que passava por várias pessoas e,
nele, eram requeridos vários níveis de decisão e critérios tidos como
complexos. E, para nossa surpresa, com um pouco de criatividade, imersão no
processo e utilização de ferramentas de mercado, que passam longe de ser "rocket
science" como se imaginava, substituiu-se todos, absolutamente todos os
intermeios humanos do processo, desde a cotação até o momento em que o material
estava sendo separado, por soluções autônomas. Com uma camada de inteligência
de dados deu-se a visibilidade que o negócio precisa para poder acompanhar os
processos e identificar desvios. E, com um pouco de empenho e imersão, um
processo custoso que possuía atrasos e diversos riscos agora está autônomo com
soluções simples e disponíveis de maneira comercial. Isso é transformação!
Diante deste contexto, nota-se que existe uma
lacuna na agenda das corporações que está sendo ocupada por um conceito de
Transformação Digital, que é amplo e muito focado para a reinvenção dos
negócios, enquanto a operação pode estar perdendo uma imensa oportunidade de
capturar benefícios com o ajuste dos processos e o foco na empresa autônoma.
Acredite, em muitas, mas muitas atividades, os robôs e a inteligência de
máquina, com um par de clicks e um pequeno esforço aqui e acolá, já pode fazer
muito melhor, mais rápido e barato do que muitos times operativos. E, como que
por mágica, é possível antecipar desvios e dar visibilidade em tempo real do
andamento da operação.
O convite aqui é falar de inovação não apenas
reinventando e buscando o novo El Dorado, mas também melhorando o que existe
para garantir que os times operativos virem supervisórios, buscando uma
integração homem versus máquina que construa melhores processos e impacte,
inclusive, a vida das pessoas. Talvez estejamos vivendo um momento único na
história, no qual a mudança da sociedade, das relações comerciais e de trabalho
se darão de forma virtuosa por meio de ferramentas realmente inteligentes.
Em pouco tempo, a maioria dos processos mercantis
serão executados por algoritmos. A busca por performance e produtividade se
dará por meio de robôs e inteligência artificial. A barreira de entrada neste
mundo é baixa e a cada dia que se posterga a decisão de sistematizar e colocar
uma camada de inteligência e automação nos processos, mais perto estamos da
queima de caixa para sobrevivência em tempos de incerteza.
A decisão é simples e elementar. E a única
crença, ou dogma que precisa ser desfeito, é que a empresa autônoma e
inteligente ainda é um sonho distante, custoso e que demanda muito esforço para
ser implementada. Pelo contrário, esta agenda é incremental, ágil, evolutiva e
está disponível para hoje.
*Fausto Motter é diretor de tecnologia da Globant, empresa
nativa digital que oferece soluções de tecnologia inovadoras.