Por Marcus Granadeiro
A mídia tem noticiado que
o setor imobiliário ainda sente os efeitos do crescimento desenfreado dos
primeiros anos após a onda dos IPO’s (do inglês Initial Public Offering):
estoques em alta, menor velocidade de venda, necessidade de maior eficiência e
custos menores. E, ao que tudo indica, esse cenário do ano passado irá se
repetir em 2013.
Embora pareça um contexto
negativo, entendo que seja uma excelente oportunidade para a engenharia ganhar
espaço e mostrar sua face mais nobre, deixando de ser vista como custo e
passando a ser encarada como investimento. O cenário atual mostra que agora é o
momento de levar às edificações o valor agregado que a engenharia deu aos
telefones da Apple, aos aviões da Embraer ou à segurança em uma simples viagem
para Santos, através da nova pista da Imigrantes.
Não é simples mudar o mercado,
deixar de ser visto como um custo e passar a ser encarado como investimento. É
uma luta que engenheiros e arquitetos terão que enfrentar por um longo tempo.
Talvez, o primeiro passo seja se valorizar, trabalhando em ambientes melhores
que incentivem a criatividade, com máquinas e softwares de ponta, além de
sempre se atualizar através de treinamentos, debates e leituras.
Talvez, efetivamente, este
primeiro passo seja o de se convencer disso, deixando de praticar preços em
função apenas de custos e incluindo na sua precificação o risco associado, o
valor agregado e outros pontos que advogados e médicos sabem muito bem como
mensurar.
Falar em precificação de
serviços não significa pregar a cizânia entre projetistas e incorporadoras, mas
defender uma postura em que o profissional de engenharia de incorporadoras
mostre que, para cada real gasto com engenharia, há uma economia de muitos
reais lá na frente. Investir em engenharia é um negócio bom e fundamental, pois
não há publicidade e propaganda que perpetue um produto ruim.
Será que orçamentos
estourados são erros de execução ou resultados de um projeto descuidado, com
falhas no planejamento? Será que eventuais economias no projeto não vão
resultar em tempo maior de obra ou crescimento nos gastos de atendimento
pós-chave? Quanto custa uma campanha para corrigir a imagem arranhada por um
erro de engenharia? Qual o ônus em deixar o projeto mais simples e delegar mais
decisões para a obra? Isto se agrava quando se agrega o fator regional?
Outro fator importante é o
tempo dedicado ao desenvolvimento dos projetos. Há a necessidade de um período
para a maturação do projeto e, mesmo para os que operam em BIM (Building
Information Modeling), ainda é fundamental aquele tempo em que os desenhos
ficavam parados na prancheta e que permitiam o processo de “contemplação”,
deixando engenheiros e arquitetos à vontade para criar e lapidar suas ideias e,
assim, proporcionar uma entrega com mais valor agregado para o proprietário.
Trabalhando com tecnologia
há muitos anos, fico preocupado com o rumo que a adoção da mesma está tomando
por parte da cadeia produtiva. A tecnologia tem que ser utilizada para criar
produtos melhores, ajudar a controlar e diminuir riscos do negócio e não para
economizar o pouco que se gasta no projeto.
Ao
invés de espaços nas áreas comuns, batizados pelas equipes de marketing com
criativos nomes em inglês, e que logo depois de entregues acabam ficando
abandonados, a promoção dos empreendimentos poderia falar de características
que uma boa engenharia e arquitetura podem trazer a uma edificação, como
excelente ventilação, boa iluminação natural, cantos livres sem arestas e ótimo
isolamento acústico. Ou seja, características de uma edificação verdadeiramente
sustentável.
Marcus Granadeiro é presidente da Construtivo.com,
empresa de fornecimento de solução para gestão e processos de ponta a ponta
para o mercado de engenharia, com oferta 100% na nuvem e na modalidade de
serviço (SaaS).