Por Daniel
Domeneghetti
Desde o ano 2000, fala-se muito sobre a
chamada Sociedade
do Conhecimento
e como este novo paradigma de construção do tecido social, suportado por
intensas trocas de informação em arquiteturas de rede, está mudando nossa visão
de mundo, nossos conceitos e práticas cotidianas, como o modo de decidir, de
trabalhar, de interpretar outras culturas e de se relacionar com outras pessoas
em seus diferentes papéis sociais.
Ao longo do processo evolutivo da
humanidade, diferentes estágios de desenvolvimento foram superados até que
chegássemos à estrutura de pensamento atual. Muitas destas mudanças foram
aceleradas ou iniciadas com a consciência, documentação, domínio e avanço da
ciência, quando novas descobertas mudaram de forma significativa a percepção de
mundo e o modus-vivendi das diversas sociedades existentes em cada época. Ao
longo desse período, o mundo se viu diante do contínuo crescimento (em volume,
qualidade, velocidade
e disponibilidade) da capacidade produtiva e de beneficiamento da Informação.
Regimes sociais antes dominados pelo misticismo e pela intuição foram paulatinamente
cedendo espaço para a realidade palpável, tendendo a deixar para o campo do
imaterial somente as questões realmente inexplicáveis pela ciência – as
chamadas questões elementares.
Por décadas e décadas, a humanidade tem
ampliado sua visão e sua capacidade de compreensão sobre os fenômenos presentes
no Universo e sobre si própria, a partir do desenvolvimento de domínios do
saber e de tecnologias como a medicina, a psicologia, a política, a engenharia
e a gestão, dentre outros. Isto tem feito com que a cultura do pensamento
racional, a partir da informação
realmente verdadeira, venha substituindo os modelos imaturos de análise humana
originários da ignorância de nossa origem e, ao mesmo tempo, se adaptando a um
mundo em constante crescimento, caótico e paradoxal, porque mantém, como da
natureza humana, seu explicável desejo de vínculo com o irracional, viabilizado
por sentimentos e atitudes de fé e crenças individuais das mais variadas.
Em outras palavras, a socialização da
informação rastreável, a partir dos diversos meios existentes, tanto
presenciais, como remotos/digitais, tem potencializado a capacidade de
compreensão e interpretação dos indivíduos, que se alimentam em rede de processos
de trocas contínuas de informações em forma de opiniões, análises, experiências
e de conhecimento explícito (leis, documentos, regras, etc). Mas, ainda sim, a
natureza humana reforça seu vínculo com o sobrenatural, com o invisível, com
seus objetos de fé. Independentemente desta natureza em si, a informação está
presente em todo o lugar, das mais variadas maneiras, repetidas e validadas
pelas mais variadas fontes. A utilização desta informação, entretanto, ainda é
desorientada – isso quando não manipulada para interesses pessoais, se
comparada à utilidade que poderia trazer para o avanço da humanidade em todas
as suas estruturas.
A solidificação e a apropriação da Era
do Conhecimento pelo grande público, a partir de sua inserção nestas redes de
informações multimídia, vêm descentralizando, transferindo poder e atribuindo
convocatória a cada indivíduo, que passa a ser gerador de mídia, tornando-se
ator no exercício de orientar o uso da informação a fim de se atingir um
porquê, fato antes restrito aos grandes grupos de mídia e comunicação.Isto é,
de fato, conhecimento como tecido social, pois é a informação beneficiada,
analisada, transformada e aplicada para uma finalidade. É do poder modelar a
informação e devolvê-la para a Sociedade de uma forma estruturada e com valor
agregado que se beneficia hoje o novo indivíduo social, que batizei de
Homus-Networkus.
A Sociedade do Conhecimento é exigente
perante a informação que lhe interessa, a partir de variáveis como acesso,
velocidade, apelo sensorial e veracidade. Quem se propõe a oferecer
Conhecimento (no limite superior, todos os agentes econômicos) a esta Sociedade
necessita alinhar o binômio visão-tempo, tornando-se capaz de estruturar este
Conhecimento para consumo. É isso mesmo. O Conhecimento passa a ser produto de
consumo!
Hoje, vivemos um momento crítico da
história, em que, pela primeira vez, os meios justificam os fins e que o
produto final – o Conhecimento – importa, mas importa mais ainda o que ele será
capaz de trazer em termos de experiência, valor agregado, transformação e
evolução para cada indivíduo. Afinal, são das relações com o mundo a nossa
volta que emergem os grandes insights, os grandes questionamentos, as
inquietudes e os melhores pensamentos em cada um de nós. A chave de nossa
evolução, como Sociedade e como indivíduos, passa por maximizarmos o consumo de
Conhecimento de cada um. E isto só é possível se cada indivíduo se plugar em
redes e comunidades de trocas e aprendizado. É do sucesso do Homus-Networkus,
do nosso sucesso socializado como tecido social, que dependerá o sucesso da
humanidade vindoura. Não se engane.