Por Daniel
Domeneghetti
Nos últimos dias, eu me
dediquei à leitura do inquietante livro de Niels Pflaeging chamado “Liderando
com Metas Flexíveis” (Beyond Budgeting). O livro busca questionar algumas das
mais arraigadas práticas
e métodos de gestão, como metas fixas, planejamento estratégico, orçamentos e
muito mais. Uma resenha sobre o livro ficará para as próximas semanas, com
análises mais aprofundadas.
Por ora, gostaria de
compartilhar um pequeno trecho, onde Pflaeging analisa as culturas empresariais
a partir de quatro tipos de personalidade, cada uma delas representada por um
deus grego (Zeus, Apolo, Atena e Dionísio). A análise de Pflaeging é feita a
partir de outro livro chamado Deuses da
Administração, publicado em 1978 por Charles Handy:
“(…)
As culturas organizacionais
que são representadas pelo carismático pai e chefe dos deuses, Zeus, são
comandadas pela pura força de vontade, pelo respeito com o talento superior do
líder e pelo prazer de fazer parte de um círculo íntimo. Tais culturas
funcionam da melhor maneira em empresas
do tipo startup (...)”
A cultura de Apolo, que
segundo Handy dominou as grandes corporações durante as últimas décadas,
caracteriza-se por regras, papéis e procedimentos rigidamente definidos, bem
como por um estilo de gestão sustentado pela hierarquia. Tais culturas
funcionam da melhor maneira em mercados e segmentos estáveis e previsíveis.
A cultura da Atena, por
sua vez, é colaborativa e orientada por problemas e aposta em equipes flexíveis
de pessoas que resolvam determinados entraves e só depois voltam sua atenção
para os possíveis conflitos seguintes. Do ponto de vista histórico, a cultura
de Atena funcionou da melhor maneira em empresas de consultoria, agências de
publicidade e outros campos em que idéias constituem o produto e onde o
conhecimento especializado é empregado de modo específico.
Por fim, existe a cultura de Dionísio, o
deus do vinho e do êxtase, com uma postura básica marcantemente
existencialista. Ela se caracteriza por contar com especialistas independentes
que se ligam a organizações de forma voluntária para perseguir seus próprios
objetivos. Essa cultura funciona onde o talento individual é altamente
valorizado e as pessoas são estimuladas a serem independentes. Os adeptos de
Dionísio não tendem a se submeter a práticas convencionais de gestão como
remuneração, promoção ou ameaça de demissão; eles preferem oferecer seus
serviços no livre mercado ao cliente que melhor pagar em vez de buscar a
segurança de um salário regular (…).”
Apolo na mitologia grega é descrito como
o deus da divina distância, que ameaçava ou protegia deste o alto dos céus,
sendo identificado com o sol e a luz da verdade. Ele fazia os homens
conscientes de seus pecados e era o agente de sua purificação. Ou seja, Apolo
realmente é a melhor figura para representar as grandes organizações.
No entanto, no mundo de hoje, Apolo e
nossas grandes organizações são deuses decadentes, lentos, burocráticos e
caretas. Suas luzes estão se apagando e há muito deixaram de ser referência
profética, artística ou de eficiência e rentabilidade.
Valores de Atena e Dionísio parecem
encarnar o modelo de organização que temos defendido em nossos projetos e que
adotamos no Grupo ECC. Isso se traduz em uma organização adaptável, com equipes
flexíveis, valores compartilhados, colaboradores multi tarefas, orientação a
propósitos grandiosos e visão de todo (big picture), sem perder sua capacidade de foco e
especialização.
A questão é que as expectativas de
talentos, consumidores e até da sociedade (refletidas em seus valores, crenças
e atitudes) parecem estar mais alinhadas às organizações com culturas do estilo
de Atena ou Dionísio (típicos exemplos pós-tayloristas). A Geração Y,
especialmente, parece ter sido projetada (como consumidora e como colaboradora)
especificamente para organizações desse tipo. Essa história cheia de
significados (espero eu) deve ser capaz de inquietar, desafiar (e até
incomodar) consultores, executivos seniores, pensadores e demais lideranças a
se perguntarem: Será a comparação acima um reflexo acurado da realidade?
1.
E caso seja, serão Atena e Dionísio os
deuses preferidos dos novos tempos?
2. A cultura organizacional de minha
empresa/cliente se associa a qual deus?
3. Deveríamos mudar? È possível e
desejável?
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sugestões. A ideia é trocar ideias.