Por Marcus Granadeiro
Antes dos computadores, o
custo de se fazer engenharia era quase exclusivamente composto pelo custo dos
profissionais, o famoso homem/hora. O “quase” ficava por conta de eventuais
custos de transporte e telefonia, já que nas grandes empresas os profissionais
trabalhavam juntos, em um mesmo local, em equipes multidisciplinares. Este
cenário foi predominante até a década de 80.
Porém, no início dos anos
90, novos custos começaram a aparecer e as pranchetas foram trocadas pelas
estações de CAD (do inglês, Computer Aided Design). Na época, houve uma grande
discussão de como apropriar o custo desta migração, com a dúvida se ela seria
um investimento necessário para se modernizar. A maior produtividade iria
trazer o retorno em quanto tempo? Iria se apropriar o custo aos projetos ou à
estrutura da empresa?
Como a migração era
inexorável, ela acabou sendo feita e, como parecia ser um custo que iria
ocorrer uma única vez, cada um acabou pagando sem se preocupar em incluí-lo em
sua estrutura formal de custos. Vale lembrar que nessa época havia muita
pirataria, sendo este o caminho escolhido inicialmente por muitas empresas. A
pirataria acontecia tanto em termos de software, quanto em relação a máquinas
contrabandeadas, o que reduzia drasticamente os custos. A estrutura de custo do
serviço de engenharia pouco se alterou e, mesmo com a introdução do CAD, ainda
se podia orçar engenharia da maneira tradicional.
Com o tempo, algumas
empresas passaram a atribuir um custo extra aos postos de trabalho CAD com
objetivo de pagar as manutenções anuais, treinamentos de reciclagem e compra de
novos programas, pois perceberam que era um custo real que passaria a acontecer
constantemente. Essas empresas passaram a se destacar, pois estavam sempre na
“vanguarda” da tecnologia, sempre com um parque tecnológico atualizado.
No início dos anos 2000,
com a quebra da cadeia produtiva da engenharia em diversas pequenas empresas,
os profissionais passaram a fazer engenharia em locais geograficamente
distintos, surgindo, então, a necessidade de colaborar remotamente, de maneira
organizada e segura. Neste contexto, apareceram os sistemas de colaboração. Com
o passar do tempo, o mercado cresceu e se diversificou. Hoje, há produtos de
todos os preços, com todos os níveis de segurança e que, além de repositórios
centralizados, ajudam na organização e gestão do processo, levando a economias
na mão de obra e garantindo a qualidade.
Em 2010, o conceito de
software como serviço (SaaS) passou a ganhar força. Com ele, a empresa de
engenharia compra o sistema, toda a infraestrutura e uma série de serviços
associados com uma só mensalidade, o que, normalmente, é dentro do conceito de
pagar sob demanda. O cenário fica muito completo e complexo, com muitas opções
de tecnologia para apoiar o setor de engenharia, principalmente em serviços de
supervisão e gerenciamento.
Dentro dessa realidade, é
imperativo que haja uma mudança no modo de se orçar engenharia. Apenas uma
planilha de hora/homem categorizada por tipo de profissional não basta. A
escolha por um sistema pode alterar muito a quantidade de pessoal necessário,
pois vai refletir em um determinado grau de automação na organização da
informação. Os sistemas são muito bons para que haja uma coleta de informação
mais confiável e padronizada, sendo excelentes para tratar o dado e, assim,
permitir uma melhor análise pelo profissional, e são imbatíveis na automação da
apresentação dos resultados.
Um edital de licitação
pública que mantém os conceitos de custeio dos anos 80 ignora todo este avanço,
impede que o órgão público se beneficie de maneira eficaz da tecnologia,
repelindo a inovação. Além de não remunerar a tecnologia da forma correta,
pois, caso ela seja disponibilizada e reduza o volume da equipe, vai
representar uma perda para a empresa que a adotou, pois ela é remunerada
exclusivamente pelo tamanho da sua equipe. Infelizmente, a maioria dos editais
de gerenciamento e supervisão ainda é formulada dentro deste conceito antigo.
Não é um contrassenso o Estado que investe em agências de fomento de inovação
ser o mesmo que elabora editais que impedem que as empresas inovem?
Marcus Granadeiro é presidente da Construtivo.com,
empresa de fornecimento de solução para gestão e processos de ponta a ponta
para o mercado de engenharia, com oferta 100% na nuvem e na modalidade de
serviço (SaaS).