Por Daniel Domeneghetti
O Erro Imperdoável de Jim
Collins, a principal afirmação que postulamos como premissa e que desafiamos a
ser contestada de forma geral (exceções pontuais monopólicas ou públicas não
valem) é que “(...) Toda e qualquer empresa foi pensada, concebida,
engendrada ou parida por acidente para suprir uma demanda real ou potencial de
mercado. E, por mercado entendam-se clientes, consumidores ou empresas(...)”.
A afirmação imediatamente
decorrente desta é que “(...) As empresas só sobrevivem se
o mercado as autorizar. E, por mercado entendam-se, novamente, clientes,
consumidores ou empresas (...)”.
Assim, chegamos à condição
de que ”(...) Uma empresa só passa a existir por causa de seus clientes e só
permanece existindo se for competente em atender, satisfazer, surpreender e
desenvolver esses clientes (...)”.
Uma contradição retumbante
e a dura realidade proposta por boa parte da guruzada, especialmente Jim
Collins, o respeitado ex-consultor da McKinsey, autor de escrita bastante
atraente e teses interessantes, mas que em termos de pesquisa e fundamentação
vem se mostrando, de certa forma, inconsistente e, justamente por isso, vem
pagando muito caro em termos de credibilidade por ignorar a relevância da variável
cliente em suas pesquisas e constatações.
Dentre as obras que
escreveu dois clássicos da literatura de negócios – agora na berlinda da
“comprobabilidade” -, se destacam: “Feitas para Durar” e “Feitas para
Vencer”.
Neles, o autor
praticamente ignorou a importância do Cliente como ativo e como stakeholder
corporativo, tanto como fator de longevidade (“Feitas para Durar”), como fator
de crescimento (“Feitas para Vencer”), se concentrando nas questões mais
intrínsecas às empresas, como missão-visão-valores, foco central do seu “Feitas
para Durar” ou “Built To Last”, ou nos estilos de liderança e motores de
crescimento, no “Feitas para Vencer”, ou “Good To Great”.
Fato é que poucos anos
depois, muitas companhias ”duradouras” estão sumindo do mapa e, principalmente,
várias “vencedoras” estão perdendo o jogo de lavada, assim como sua posição de
liderança, relevância e mesmo viabilidade. Vá lá, leia os livros e cheque as
listas de Collins.
Não foi surpresa descobrir
após alguns anos que as empresas listadas em ambos os rankings de Collins
enfrentaram graves problemas nos anos seguintes ao lançamento do livro. E isso
sem necessariamente mudar a fórmula que ele descreveu em seu livro.
Assim, quando falamos das
duas obras deste guru, fique à vontade para visualizar qualquer outro livro de
guru que tenha se atrevido a escrever sobre estratégia empresarial, inovação e
gestão competitiva, propalando conceitos “matadores”, sem dar a necessária
atenção ao tema cliente.
Nosso ponto não vale
somente para Collins ou para estas duas obras – longe disso, porque a este
respeitamos, a despeito da crítica técnica, mas qualquer autor ou gestor que
acredite que pode construir uma empresa excelente, igualmente competitiva e
duradoura, sem colocar o cliente no centro de sua estratégia de longo prazo.
E, desde já, para que não
haja confusões de entendimento e conceito daqui para, antecipamos: nada de
modismos e sandices românticas do tipo “Cliente é Rei”, “O Cliente pode tudo”
ou o “Cliente tem sempre razão”. O cemitério empresarial está cheio de empresas
e gestores bem intencionados que foram degolados pelo déspota “Rei Cliente”.
Feitas para o Cliente não tem nada a ver com essa monarquia imbecil.
Por fim, se você é um fã
dos livros de Collins, continue lendo suas obras. Nós continuaremos. Não
afirmamos aqui que as todas as premissas desse guru estão completamente
erradas. Ao contrário, seus livros exibem muitos insights inegáveis,
inclusive em suas teses sobre visão-missão-valores, liderança e motores de
crescimento.
A questão é que estes
elementos não são suficientes para determinar nem a longevidade, nem a
competitividade das empresas. São apenas estrelas de uma constelação muito
maior, ainda que reluzentes.
Se este é o seu caso,
pense nas afirmações aqui contidas como um complemento necessário e mesmo
indispensável aos vários bons conselhos de Collins (e de outros gurus). Pense
neste livro como uma lente pela qual o livro de Collins e tantos outros devem
ser relidos. Confie em nós; vai fazer sentido.