Por Marcus Granadeiro *
A tecnologia BIM está disponível, os preços muito acessíveis, os
fornecedores capacitados e muita experiência pronta para ser absorvida. Nesta
época eleitoral é inevitável não pensar em como tudo isto poderia ser
utilizando em termos das obras públicas, já que há tanto registro de atrasos,
orçamentos estourados ou mesmo obras prontas que se nota claramente uma grande
ineficiência no resultado final.
Abstraindo questões como corrupção, interesses classistas e
eventuais amarras legais, como poderíamos usar toda esta tecnologia em
benefício do Brasil ? A seguir estão colocados alguns pontos sobre este
pensamento.
Com informações sobre tempo de deslocamento, tempo de
atendimento, previsão de demanda é possível realizar a otimização do layout e
maximizar resultados na operação. Uma vez concebido o projeto inicial, o órgão
rodaria diversas simulações com softwares matemáticos para otimizar os layouts
de hospitais, postos de atendimento, escolas e estações de transportes, sendo
que só aceitaria que avançassem projetos já otimizados. Uma simples mudança de
processo como esta traria um enorme benefício à população, pois nasceriam
apenas projetos bem concebidos, com operações mais eficientes e menos onerosas.
O fluxo de discussão desta fase deveria envolver os usuários finais, que
interagiriam dinamicamente com os modelos matemáticos, permitindo ajustes e
ratificando ideias. Uma vez definido o layout, modelos simplificados poderiam
rodar na internet e ser acessível por qualquer cidadão, explicitando de maneira
transparente o objetivo e capacidade final do empreendimento. Teríamos milhões
de fiscais atuantes e cobrando o desempenho final em termos de operação.
O estudo de viabilidade nasceria de um conceito já validado e
adequado. Um segundo nível de detalhamento seria aplicado para a fase de
concorrência. Quão maior o projeto, mais detalhada deveria ser esta fase.
Complexidade e riscos aumentam com o tamanho e devem ser melhor analisados. Não
se pode continuar em mente que tempo de projeto é tempo perdido, quão melhor e detalhado
estiver o modelo, menor risco e melhores preços. As licitações teriam como base
um modelo BIM e não simples desenhos bidimensionais. Licitações, concorrências
públicas baseadas em projetos mais maduros, completos, resultando menos espaço
para manobras de corrupção.
Haveria como exigência a apresentação do modelo BIM na proposta
dos concorrentes, evidenciando o planejamento de execução através de simulações
4D, apresentando o fluxo de caixa através do 5D, e utilizando todos os
elementos para demonstrar uma análise de risco envolvida na execução do
serviço. Não importa se o empreendimento é um edifício, uma estação de
tratamento de água, uma usina de energia ou uma estação de trem, ter o modelo
digital de informações completo, ter realizado análises sobre ele garante uma
melhor avaliação pelo contratante, vai fornecer subsídios para quem for
desempenhar o papel de gerenciador além de diminuir o risco de aditivos e
atrasos por mal planejamento.
O gerenciamento e supervisão da execução deveria ter as informações
cadastradas no modelo BIM, deixando este modelo “disponível” aos diversos
interessados que teriam ferramentas para gerar relatórios a partir dele. Não
haveria gasto de mão de obra com formatação, redigitação de informações e
demais atividades de preparo de um relatório, normalmente pouco confiável e
seguramente já defasado ao chegar às mãos do responsável final. Modelos BIM
ficariam disponíveis para consulta e pesquisa pelas entidades de classe e
tribunais, com plena transparência, informação em tempo real e menor custo.
Teríamos um volume maior de fiscais, de maneira contínua, incluindo eventuais
concorrentes que perderam a concorrência, dificultando casos de corrupção.
Além das mudanças de processos indicada acima, deveria haver o
conceito de uso de um modelo único, do estudo de viabilidade ao as build,
passando por todas as fases. O mesmo modelo utilizado nos estudos de
viabilidade vai ganhando detalhe e se transformando. Em apenas um modelo se
pode entender toda a história do projeto, analisar decisões e dirimir erros e
falta de continuidade e nexo entre as diversas fases. O gerenciamento
contratual, a fiscalização e a garantia de respeito as definições das etapas
anteriores seriam mais simples de serem executadas. O comissionamento seria uma
etapa que se inicia com o início do projeto, a matéria prima para as equipes de
operação e manutenção teria um grau de certeza muito maior, muito dinheiro
seria economizado neste tema, pois as licitações para a operação teriam menos
incertezas.
O leitor pode ler este artigo e chegar a diferentes conclusões,
uma delas é que se trata de um sonho, um delírio que no mundo de
corrupção, interesses classistas e eventuais amarras legais nunca aconteceria.
Acredito que há como melhorar o que temos hoje, acredito que temos que ter mais
engenharia para que consigamos ter menos custos jurídicos e financeiros nas
obras. O fato é que o conceito do BIM, de ser de um modelo virtual do que será
construído, incorporando seu comportamento, desempenho e história, pode nos ajudar
na redução dos atrasos, orçamentos estourados ou mesmo edificações
ineficientes. É assim que poderíamos beneficiar o Brasil.
Marcus Granadeiro é presidente da Construtivo.com, empresa de
fornecimento de solução para gestão e processos de ponta a ponta para o mercado
de engenharia, com oferta 100% na nuvem e na modalidade de serviço (SaaS)