Pesquisa do compliance organizacional: uma forma de mensurar e transformar a cultura ética da empresa

                                                                                                       *Por Antonio Carlos Hencsey

Pare um pouco e pense na sua organização. Agora responda. O que é mais importante: determinarmos regras claras para que a empresa tenha um caminho ético definido? Ou termos a certeza de que essas diretrizes apresentadas foram interiorizadas pelos stakeholders? Provavelmente você chegou à conclusão de que ambas as opções são fundamentais.
Isso ocorre porque a principal função de um código de ética é garantir que os valores core da empresa sejam, não só seguidos e reproduzidos de forma sistemática, mas também absorvidos e incorporados por colaboradores, fornecedores, conselheiros e qualquer outro parceiro que atue neste cenário corporativo, passando então a fazer parte de cada uma das células circulantes da empresa.
Sendo assim é primordial que as organizações mensurem e avaliem o seu Compliance Organizacional. Ou seja, quanto seus princípios foram interiorizados por todos, a fim de transformar regras em condutas, permitindo que haja um consenso tanto nas relações internas como externas da companhia.
O principal benefício da transformação da cultura ética da empresa é que normas internalizadas passam a fazer parte do DNA daqueles que conduzem os negócios, reduzindo os gastos com controles, as perdas, as fraudes, os contenciosos trabalhistas, as multas e passivos entre outros pontos, argumento esse de indiscutível importância em momentos de crise. Somado a isso, não podemos esquecer que empresas intrinsicamente éticas aumentam o seu valor, melhorando sua imagem no mercado e sua rentabilidade.
Dados da última pesquisa publicada pela ACFE (Association of Certified Fraud Examiners) em 2016 mostram que empresas que fizeram uma revisão gerencial dos temas ligados à ética e combate à fraude tiveram 50% menos perdas financeiras do que empresas que não adotaram tal política. Outro ponto levantado é que as denúncias, que muitas vezes são motivadas por identificação com valores organizacionais, representam as principais fontes de informação de desvios éticos corporativos.
Você pode pensar que introduzir essa cultura na empresa é algo difícil e complexo, uma vez que há inúmeros fatores que direcionam ou bloqueiam indivíduos a incorporarem tais valores. Em nossa ótica, tudo o que se necessita é um método adequado de trabalho, que garanta o mapeamento preciso do nível atual de aderência às regras estabelecidas e permita conhecer com clareza quais os elementos internos que devem ser trabalhados, promovendo assim ações que solidifiquem ou construam o mindset desejado.
Desta forma, a pesquisa de compliance organizacional possibilita alcançar uma visão não só geral, como também, segmentada da empresa, orientando tanto as ações globais como as direcionadas para departamentos, níveis hierárquicos, tempo de empresa ou sites específicos.
A partir disso, torna-se possível a identificação de quais fases do processo de implantação de compliance têm apresentado maior ou menor efetividade, permitindo à empresa sanar fragilidades existentes. Deve possibilitar também o acompanhamento sistemático dos resultados visando mensurar como as ações tomadas impactam o público ao longo do tempo, mostrando assim tanto a eficácia do plano executado como também, auxiliando na definição dos próximos passos, permitindo um ciclo de melhoria contínua.
Por fim, não podemos esquecer que cultura deriva de cultivar, e se não plantarmos, regarmos, cuidarmos e acompanharmos a cultura ética de nossa organização, dificilmente colheremos os frutos que desejamos.


Antonio Carlos Hencsey é líder de prática de compliance individual da Protiviti, consultoria global especializada em finanças, tecnologia, operações, governança, risco e auditoria interna.