por Marcus Granadeiro*
Quando
compramos um carro nos preocupamos em avaliar o seu consumo, o custo do seguro
além dos aspectos relacionados à manutenção. A razão para isto parece simples e
óbvia: o mercado valoriza carros e marcas que prezam estes aspectos. Os modelos
novos custam mais, os usados são mais valorizados.
Se
para comprar um carro há esta preocupação, por que ela não ocorre na compra de
um imóvel? Por que não se busca entender se o projeto foi desenvolvido pensando
na usabilidade, no conforto e na economia operacional? Por que o mercado não
valoriza estes aspectos já que passamos muito mais tempo com os imóveis do que
com os carros e que os gastos com a operação dos imóveis serão inevitavelmente
maiores e mais representativos do que um tanque de combustível?
Uma
arquitetura que não pensou na ventilação natural, uma janela de tamanho
inadequado, colocada na face errada da edificação, uma economia no material de
vedação, projetos elétricos deficientes e focados em apenas reduzir o custo da
obra e não em otimizar a operação, economia nos sistemas de aquecimento de água
etc. Todos estes são exemplos comuns de obras que foram feitas para custar
menos na aquisição, mas muito mais na operação. São nossos “edifícios gastões”.
Pessoas
que, conscientemente, não comprariam um muscle car v6, que são carros com
potência, tamanho e performance elevada, pois se tratam de consumidores
ambientalmente preocupados, estão comprando “edificações beberronas” e fazendo
isto sem se atentar. O mercado, que está avidamente competindo por preço, deve
buscar o custo operacional como diferencial com cada vez mais intensidade.
Neste
cenário, o BIM (Building Information Model), a Internet das Coisas (IoT) e o BI
(Business Intelligence) têm muito a contribuir.
O
BIM é a construção virtual. Com ele, conseguimos fazer estudos, simulações,
vislumbrar e antever o comportamento da edificação antes que ela exista
fisicamente. Isto é fundamental desde as fases iniciais de projeto para que se
crie um projeto otimizado para a operação a partir do início. É o BIM que vai
poder dizer quanto a edificação vai consumir, quando será necessário ligar o ar
condicionado, acender as lâmpadas e o que se consumirá de energia, gás e água.
Assim
como um carro tem um painel com hodômetro, velocímetro e contador de rotações
do motor, sendo que para isto possui sensores nas rodas e motor para coletar os
dados, vamos precisar inserir sensores na edificação para medi-la, avalia-la e
conhecê-la. Vamos fazer isto não apenas para checar se as simulações do BIM
estavam certas, mas para fornecer insumos para uma manutenção mais eficiente e
para registrar o que já aconteceu com a edificação. Você compraria um carro sem
saber quantos quilômetros ele rodou e quanto ele performa? Você compraria um
carro apenas consultando o ano de fabricação? Sem a internet das coisas é assim
que compramos imóveis usados.
A
terceira tecnologia que vem para apoiar esta mudança é o BI e ela se torna necessária,
pois o volume de dados gerados nas simulações e pela internet das coisas é
enorme. É o tal do Big Data. Para que possamos realmente tirar proveito deles
não basta colocá-los em uma planilha, há necessidade de desenvolver análises
bem mais profundas. Análises com regressões, cruzamento de dados e incorporação
de visualizações em gráficos e diagramas dinâmicos, que é justamente a entrega
que o BI faz.
A
conclusão é que nossos “edifícios gastões” são oportunidades e não obstáculos e
que é necessário mudar este cenário, seja por uma questão mais macro sob o
ponto de vista de energia, seja como necessidade de se criar diferenciais em um
mercado competitivo e em crise.
*Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado
pela Escola Politécnica da USP,
presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro
da ADN (Autodesk Development Network) e do RICS (Royal Institution of
Chartered Surveyours).