*Carlos Guimar Fonseca
Junior
Roubo de cargas é uma
modalidade de crime antiga, acontece desde os tempos mais remotos. A novidade é
o aumento significativo desta atividade ilícita que atinge proporções de
crescimento alarmantes. Os números divulgados pela mídia aumentam a preocupação
de toda a sociedade e comprovam este crescimento assustador em roubo de cargas.
Entre os dados que mais impressionam, menciono que, entre 2011 e 2016, os
roubos de cargas custaram mais de 6 bilhões à economia brasileira, conforme
aponta dados recentes da Federação das
Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), estrangulando o lucro das
empresas.
Para compreender as
consequências do crescimento deste índice no Brasil precisamos analisar um
pouco da realidade social do País, uma vez que as receptações estão fortemente
ligadas à crise atual na segurança pública, na situação socioeconômica e, por
fim, na crise moral e ética de alguns brasileiros.
No quesito segurança
pública, é clara a falta de investimentos em todas as esferas, assim como a
falta de uma polícia mais integrada, aparelhada e treinada para tratar este
tipo de crime nos mesmos moldes que existe para roubo a bancos ou sequestros.
Cabe aqui para exemplificar como ressalva a competente DRFC (Delegacia de
Roubos e Furtos de Cargas do Rio de Janeiro), uma das poucas especializadas no
País com competência técnica e profissional, mas sem nenhum apoio
governamental. Ouso dizer que o cenário carioca, um dos mais alarmantes, seria
menos assustador caso a DRFC fosse apoiada por entidades governamentais.
O roubo de cargas, na
maior parte dos estados, não é um indicador de segurança pública, o que o faz
deixar de ser assunto prioritário tornando-se um desequilíbrio no ecossistema
público securitário. Para entender a gravidade deste desvio de análise
menciono que, um celular roubado assume maior importância do que o roubo de uma
carreta carregada de celulares pelo simples fato de o furto ser contabilizado
pelo Estado como indicador de violência. Vale acrescentar que, em cenário
ideal, nenhum tipo de roubo ou furto deveria ocorrer, mas vez que ambos podem
acontecer, é necessário pontuar e igualar a importância entre os crimes.
O cenário torna-se ainda
mais crítico quando, além da fragilidade na segurança pública, os fatores
agravantes são ampliados por uma crise socioeconômica que afeta
diretamente a população carente desassistida, desempregada e, cada vez,
contribuinte de impostos agressivos. Ou seja, um público que é cooptado
facilmente. Por fim, a crise moral e ética fomentada pelos inúmeros exemplos
negativos e pela percepção de impunidade, levando de pequenos a grandes
bandidos travestidos de empresários a se tornarem receptadores na busca de
ganhos maiores. Neste caminho de instabilidade, o crime organizado apenas
aproveita a oportunidade, conseguindo roubar sem ter incomodo e com clientela
certa “física e jurídica”. Esta á principal origem do crime rentável, que
contribui para a compra de mais armas e mais drogas, retroalimentando um
sistema criminoso e o tornando cada vez mais forte. Ou seja, mais uma vez
impactando a crise socioeconômica.
As perspectivas de
encontrar de soluções, não são nada boas. Acompanhando vários movimentos das
entidades que reverberam discursos políticos, a situação é realmente
desanimadora. Por mais acaloradas que sejam as palavras e jargões impostados, o
direcionamento para a solução não é claro. Problema é conversado até entender a
causa e o efeito. A partir deste ponto deve ser encontrado, e colocada em
prática uma solução, mas não é isso que se enxerga.
Para quem atua em posições
de embarcador ou transportador, para os quais as avaliações de impactos fazem
parte da rotina profissional, todo o caminho leva para uma entre três possíveis
decisões: correr, assegurar ou tratar o risco. Fatos e dados mostram que não é
possível correr do risco e, por outro lado, os seguros estão extremamente
limitados. Poucas são as seguradoras que aceitam o desafio com relação a cargas
e, as que aceitam, praticam preços estratosféricos, inviabilizando os negócios.
Neste cenário, temos a
opção de abandonar os negócios ou assumir a responsabilidade por se proteger
tratando o problema com assertividade, senso de urgência e em sua expressão
máxima.
*Carlos Guimar Fonseca Junior é gerente
de segurança da ICTS, empresa especializada em consultoria, auditoria
e serviços em gestão de riscos, que possui ampla atuação no mercado de gestão
de riscos, auditoria interna, compliance, gestão da ética, prevenção à fraude e
gestão da segurança.