por Marcus
Granadeiro*
São Paulo, junho de 2017 – Os
primeiros estudos da aplicação de internet e colaboração em obras do Metrô
começaram com a discussão sobre quantos impulsos os modems discados de 14 kbps
consumiam, pensando em fotos e não filmagens, e utilizando o navegador
Netscape, época que remonta o começo dos anos 2000.
Todo
este estudo e aprendizado, feito de uma maneira aberta e participativa com os
fornecedores, levou a uma utilização muito intensa e pioneira na construção da
estação Chácara Klabin e toda a sequência da Linha 2-Verde, bem como a
utilização pelo Consórcio Via Amarela na Linha 4-Amarela.
A
onda da colaboração e da internet como ferramenta de apoio ao processo de
engenharia entrou de forma natural dentro do ecossistema metroviário:
projetistas, gerenciadoras, empreiteiras, Metrô e até mesmo os fornecedores
aprenderam e desenvolveram aportando conhecimento, descobrindo aplicações,
errando e evoluindo. Dos aspectos práticos, passando pelas questões de
planejamento, assim como os pensamentos estratégicos e os detalhes legais, tudo
foi sendo revisado e, de certa forma, impactado com a chegada da tecnologia.
Como
era de se esperar, a Linha 5-Lilás também utilizou colaboração e, embora muito
mais recente que as demais Linhas, também foi pioneira e se destacou, pois
utilizou a tecnologia de colaboração de maneira inovadora e distinta das
demais. O foco foi na supervisão e gerenciamento da obra, com o desenvolvimento
de formulários específicos que foram de registro de não conformidades ao
controle de correspondências contratuais, todos associados a fluxos de trabalho
(workflow) personalizados. Cada “ocorrência” registrada em um formulário tinha
seu processo gerido de forma automática e seu histórico registrado em uma
espécie de fórum de discussão, sendo tudo base para relatórios e gráficos apresentados
de forma online.
Este
tipo de utilização de colaboração pela Linha 5-Lilás será influenciada pela
próxima grande onda que acontecerá no mundo da tecnologia, o Blockchain, que é
uma espécie de livro razão digital, uma maneira de registrar transações de
forma que se garanta a sua integridade. É a tecnologia que foi desenvolvida
para dar base ao Bitcoin. O que o mundo percebeu é que esta tecnologia tem um
potencial de impacto muito maior do que a razão da sua criação. Ela poderá
eliminar o elemento que chancela as transações. O mundo está chamando o
Blockchain da rede de confiança ou internet de rede de informações.
Diários
de obra, medições, contratos, comunicados, inspeções e qualquer outro tipo de
registro e transação realizada pelas ferramentas de colaboração deixarão de ser
registradas em banco de dados tradicionais e passarão a ser registradas em
Blockchains, permitindo uma transparência sem perder a privacidade, uma
auditoria e inviolabilidade total. Esta será a próxima onda, e será inevitável.
*Marcus
Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, presidente do Construtivo,
empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro da ADN (Autodesk
Development Network) e do RICS (Royal Institution of Chartered Surveyours).