*Por Jefferson Kiyohara
Há poucas semanas, um
renomado fundo de pensão noticiou a introdução de padrões de governanças mais
rígidos em seus critérios de investimento, incluindo a avaliação se a empresa
possui ou não um programa de integridade efetivo. Tal fato ressalta a
importância do papel do investidor e do acionista na contribuição direta para o
fortalecimento da cultura de compliance no mundo corporativo brasileiro.
O ativismo pode ser
positivo para as companhias, mas se adotado com visão de curto prazo, como fogo
de palha, poderá ter efeito contrário e trazer riscos e desgastes à imagem da
companhia. Tipicamente envolve questões distintas que vão da estratégia
financeira, passando por aquisições, fusões e cisões, e também assuntos
envoltos em responsabilidade social e ambiental. O ativismo do acionista pode
ser um importante passo de fomentação ao compliance, por exemplo, ao incentivar
que a organização implemente um Programa Efetivo de Compliance, e que
posteriormente o mesmo seja reconhecido - o selo Empresa Pró-Ética e a
certificação ISO 37.001 são bons exemplos de opções.
Pois bem, pensando no
ativismo sob o prisma de promover o compliance, vejo como uma iniciativa
positiva trazendo ganhos para o investidor e para a companhia. No caso da
empresa, ao adotar um programa de compliance efetivo, a organização mitiga
riscos reputacionais e financeiros, reduz a probabilidade de ocorrência de
fraudes e crimes monetários como a corrupção. Todas essas medidas ajudam a
organização a preservar a sua saúde financeira, seus relacionamentos e seus
negócios com os stakeholders, além de atrair e reter talentos sustentados por
uma cultura organizacional sólida e ética.
Já para o investidor é um
reforço à transparência e perenidade do negócio, e à concretização dos ganhos
futuros, trazendo tranquilidade de não ser surpreendido por mídias negativas,
sanções ou multas, que podem gerar consequências como perdas financeiras
relevantes e danos reputacionais traduzidos pela queda no valor das ações, por
exemplo.
Há investidores que buscam
o risco e exigem um prêmio por isto. Mas não os riscos associados à
possibilidade de crimes financeiros como a corrupção, o suborno e lavagem de
dinheiro. Um investidor pode sim ser surpreendido por perdas substanciais em
organizações que tinham um modelo de negócio promissor e sólido, assim como
histórico de resultados financeiros positivos, porém sem a preocupação com a
cultura ética e o compliance da sua marca. A existência de um programa de
compliance efetivo atrairá investidores, independentemente do apetite ao risco
de cada um deles.
E mesmo tendo um fator de
atratividade sob os olhos do investidor, o Programa de Compliance maduro não é
realidade na maioria das empresas brasileiras. Por isso, o ativismo de investidores
e acionistas por compliance pode ajudar na mudança deste cenário, condicionando
o seu investimento à adoção de medidas de compliance efetivas reais e
duradouras. Além da proteção dos investimentos, trata-se de uma contribuição
evolutiva para os negócios e, sobretudo, numa colaboração ativa para um País
mais ético e justo.
*Jefferson Kiyohara é líder da prática de riscos & compliance
da Protiviti, consultoria global especializada em Gestão de Riscos, Auditoria
Interna, Compliance, Gestão da Ética, Prevenção à Fraude e Gestão da Segurança.