Realizado por consultoria global,
maior estudo disponível no mercado sobre ética corporativa conta com a
participação de 6.277 profissionais e indica que as pessoas estão menos
propensas a compactuar com atos ilícitos no ambiente de trabalho
A implementação da Lei Anticorrupção e a eclosão da Lava
Jato reforçaram a preocupação das empresas com as questões éticas. Mas, na
prática, como reage o profissional brasileiro
diante da corrupção, fraude, desvios e
má-conduta? As respostas estão na pesquisa bienal “Perfil Ético dos
Profissionais Brasileiros”, realizada pela consultoria global Protiviti com
6.277 profissionais de distintos níveis hierárquicos em 146 diferentes
companhias.
O estudo indica como os
funcionários se posicionam quando estão expostos a dilemas éticos existentes no
seu dia a dia laboral. De acordo com o levantamento, 47% dos trabalhadores
denunciam atos irregulares no ambiente organizacional, enquanto 53% apresentam
resistências por medo das possíveis consequências. Na pesquisa anterior, ocorrida
em 2015, os números apresentados eram de 40% e 60% respectivamente. Esse
crescimento de 17,5% de pessoas que denunciam atos ilícitos mostra que as
pessoas começam a enxergar que a conveniência a atos antiéticos tem causas
externas.
“Embora as empresas estejam cada vez menos tolerantes a
atos antiéticos e o profissional sinta que pode ser prejudicado por saber da
ocorrência de ilicitudes e se omitir, o medo de exposição e retaliação por
denunciar ainda está presente, mas a divulgação constante da Lava Jato promove
a conscientização sobre a queda da impunidade em relação a atitudes não
éticas”, explica Antonio Carlos Hencsey, líder da prática de Ética &
Compliance na Protiviti, consultoria global especializada em finanças,
tecnologia, operações, governança, risco e auditoria interna.
O estudo também observa
que 15% dos profissionais avaliados têm baixa flexibilidade moral, ou seja,
apresentam valores morais internalizados e sólidos. Já 35% tem uma
flexibilidade moral média baixa, ou seja, seus valores morais ainda são sólidos
e estão ancorados num contexto afetivo-social maior, como família e amigos, e
36% apresentam média flexibilidade, o que indica que possuem tendência a agir
de forma correta, porém, em situações de pressão e não identificação de uma saída
correta podem flexibilizar sua conduta.
“Esses percentuais mostram
que, caso a empresa estimule e dê condições para que ações éticas sejam
tomadas, como um canal de denúncia anônimo, que contempla processos
investigativos e tratamentos adequados, políticas claras e reflexões sobre
ética frequentes, 86% da população interna tenderiam a agir de acordo com o que
é correto. Neste cenário, apenas 14% da população apresentaria um perfil somado
de média alta e alta flexibilidades apresentando maior probabilidade de riscos.
Porém, em empresas que não oferecem condições para que as pessoas se posicionem
em relação a atitudes ilícitas, os 36% com média flexibilidade tenderiam a
compactuar com atitudes ilícitas mesmo que não concordando com elas, elevando
para 50% o potencial de risco vindo dos colaboradores”, explica Hencsey.
Outros índices positivos
trazidos na pesquisa são que 63% dos respondentes não repassam dados sigilosos
por medo de serem prejudicados no mercado de trabalho ou pegos atuando de forma
irregular. Esse mesmo percentual (63%) dos entrevistados também não furtariam
ou fariam mau uso dos bens materiais da empresa com receio de forte condenação
social. No quesito pagamentos e recebimentos ilícitos, 57% dos trabalhadores
respondentes afirmaram que esta prática não faz parte de suas relações
profissionais por receio de serem punidos, sem porém demonstrarem um
distanciamento moral relevante com essa prática. Além disso, a gratificação
indevida é vista com maus olhos para 56% dos profissionais entrevistados pela
Protiviti.
Vale ressaltar que quando
abordados sobre o receio da punição em reportar aos superiores os erros
próprios ou de terceiros, 66% dos profissionais deixam de denunciar. Isso
mostra que ainda há falta de visão do colaborador sobre as consequências
futuras pela omissão do ato e o descomprometimento em não se envolver com a
missão e os valores da empresa.
A Protiviti sinaliza que a
análise deste ano traz duas conclusões inéditas. A primeira é que os
profissionais brasileiros estão mais atentos a este momento nacional, e as
empresas devem utilizar todos os recursos disponíveis para potencializarem essa
mudança. Já o segundo ponto é relacionado a uma nova maneira das companhias
avaliarem os candidatos e colaboradores frente a dilemas éticos por meio de
metodologias diferenciadas.
“Há um processo exclusivo
da Protiviti, chamado de Compliance Individual, que vem ganhando espaço nas
organizações brasileiras porque auxilia a empresa a conhecer o candidato
através do seu posicionamento, seu histórico, suas motivações, receios e
expectativas. Tudo isso para convergir cada vez mais a percepção do candidato
ou profissional efetivo com os valores éticos da companhia”, conclui Hencsey.