*Por Antonio Carlos Hencsey
Um novo ano bate à porta e
junto com ele são divulgadas as tão esperadas metas. Você já parou para pensar
no impacto que esses números e expectativas organizacionais podem trazer para a
gestão ética da sua empresa?
Se isso ainda não tinha
passado pela sua cabeça, sugiro que você faça algumas reflexões para que a sua
organização consiga os resultados esperados sem, porém, aumentar a
probabilidade de ações ilícitas decorrentes de planejamento corporativo
audacioso.
Comunique as metas de forma adequada
A maneira como as expectativas e
objetivos da empresa para o próximo ano são apresentados fazem toda a
diferença. Entusiasmo e desafio são fatores positivos para estimular as equipes
a conseguirem superar os seus limites, porém é fundamental falar sobre o como
se deseja alcançar esses números. Discursos ao estilo “missão dada é missão
cumprida” devem obrigatoriamente ser acompanhados de diretrizes éticas claras,
caso contrário as pessoas podem se preparar para o vale tudo da guerra sem
prestar atenção nas melhores práticas do mercado.
Use dados de realidade para estipular
as metas
O que você espera dos seus
colaboradores é algo real ou é fruto de um pensamento ganancioso? Existe uma
grande diferença entre vencer obstáculos e buscar o impossível. Por mais que em
um processo de automotivação seja válido pensar que o impossível não existe, na
prática ele é bastante real e desconsiderar questões sociais, econômicas ou
operacionais ao traçar metas agressivas pode colocar em risco o posicionamento
ético de profissionais. Ao desejar entregar o que é esperado, um colaborador
pode manipular números ou usar atalhos para “alcançar o inalcançável”.
Ensine como se chega lá
Trabalhando com ética e compliance
escutei muitos executivos de vendas reclamando da prática de gratificações ter
sido proibida por boa parte das empresas. Eles dizem que isso impacta
diretamente em suas vendas e que, por outro lado, as companhias para as quais
trabalham estão cada vez mais agressivas desconsiderando esse fator. Tal ponto
merece a atenção das organizações com os seguintes questionamentos: você ensina
ao seu colaborador como obter seus resultados diante de cenários adversos? Qual
é o suporte oferecido diante de novas realidades ou dificuldades? Cobrar sem
dar as condições de obter o resultado pode aumentar o risco de fraude
organizacional.
Observe o caminho e não só a reta
final
Uma vez dadas as metas, acompanhe o
trabalho da sua equipe. Verifique dificuldades, oriente os passos de acordo com
o posicionamento ético esperado, ajude na identificação de saídas criativas. Os
números devem ser o fim, mas de forma alguma o meio deve ser ignorado. Caso
contrário, corre-se o risco de cairmos em uma armadilha, olhando exclusivamente
para uma moldura financeira sem saber como os resultados foram construídos.
Lembre-se das provas de matemática que você fazia na escola. Não é só a
resposta final que importa, precisa-se observar toda a lógica do cálculo. Fique
atento.
*
Antonio Carlos Hencsey
é líder de prática
de Ética & Compliance da Protiviti, consultoria global especializada em
finanças, tecnologia, operações, governança, risco e auditoria interna.