por Carlos Guimar*
A cena do vendedor
ambulante que entra no metrô para vender gadgets tecnológicos traz muitas
situações à tona. Pode-se dizer da opção de trabalho de uma classe com menos
oportunidades ou de pessoas economicamente menos abastadas, herdeiros de uma
crise monetária assolada no País há pelo menos 04 anos. Essas são algumas
conotações vista num primeiro momento.
Mas indo além dos
olhos comum da população, o moço que vende “oito pilha a um real” é um filho
passivo do roubo de carga, algumas vezes sem saber que faz parte de um esquema
fraudulento. O comércio ilegal de produtos é um dos fatores ligados ao oceano
de situações originadas pelo roubo de cargas, um crime que permanece sem
controle nas principais regiões brasileiras.
Recentemente foi
demonstrado em um conceituado fórum sobre o tema que o Rio de Janeiro,
reconhecido pelo seu poder bélico, e São Paulo, onde há um caso de roubo de
carga por hora, permanecem na liderança deste grave problema, que já afeta
modais de todo o País. Alimentos frigorificados, eletroeletrônicos (olha os
vendedores ambulantes aí) e bebidas estão no topo das cargas mais furtadas.
O problema é mais
embaixo e traz duas constatações para motivar os índices periclitantes do roubo
de carga no Brasil. A primeira está ligada ao ambiente sócio econômico. A
população desempregada gera um forte mercado paralelo, que está associado à
crise moral e ética pela qual o brasileiro passa. As feiras conhecidas como
"robautos”, os tais mercados a céu aberto, onde produtos roubados são
expostos e vendidos, crescem dentro e fora das comunidades, expandindo para o
comércio ilegal nos trens, metrôs e ônibus.
A segunda constatação
é a segurança pública, que é afetada com o total desinvestimento do Estado, com
a falta de investigações e a de prisões dos receptadores. Diante de olhos
tapados das autoridades, o crime organizado se estrutura cada vez mais e as
cargas roubadas viram uma parte importante da receita das facções.
Não perdendo nada
para grandes holdings, a logística dos interceptadores é uma aula de escoamento
estratégico a parte. Caminhões são abordados em vias na entrada de comunidades
e levados para pontos não alcançados pela polícia. É praticamente uma entrega
expressa na porta de casa dos marginais, sem o menor esforço logístico. Para se
TER ideia, no mercado bélico ilegal, as armas, e também as drogas, precisam de
um esforço maior desde a compra, passando pelo transporte, chegando na
estocagem até a venda.
Assim como em
empresas, sob a máxima do tudo que é muito bem planejado alcança resultados
super satisfatórios, no mercado de roubo de cargas não é diferente. Contas
feitas por institutos especializados em segurança pública mostraram que os
criminosos lucram com o roubo de cargas em um único dia, só no Rio de Janeiro
mais de um milhão de reais, na qual esta mesma quantia seria arrecadada em mais
de uma semana vendendo drogas.
É preciso tratar com
urgência. As empresas e a população são impactadas demais pelo roubo de carga.
Existe uma miopia do governo neste entendimento, que deixa de arrecadar milhões
por mês devido a este crime. Atualmente, o que se tem como combate efetivo são
ações no campo político, de intenções, capitaneado por políticos diversos, por
associações, dentre outras entidades que trafegam com cartas e ofícios de
solicitações com macro ideias, porém sem prazos definidos. E só! Nada de
concreto.
Neste cenário, resta
ter a maturidade para entender, decidir, investir e realizar uma gestão de
mudanças, demonstrar inteligência e visão. Resta a proatividade da iniciativa
privada. Enquanto não vem, as empresas especializadas em segurança têm se
tornado uma opção para as companhias que desejam mitigar o roubo de carga e
todos os seus desdobramentos corporativos/sociais.
Seja no uso de
tecnologias para gerenciar riscos ou em procedimento para analisar possíveis
gargalos ligados à falha humana, o esforço das empresas já um grande passo no
âmbito social para evitar a proliferação de mais filhos indiretos do roubo de
carga.
*
Carlos Guimar é sócio-diretor da ICTS Security, consultoria e
gerenciamento de operações em segurança, de origem israelense.