por Marcus
Granadeiro*
Quando avaliamos a adoção
do conceito de BIM (Building Information Modeling), ou Modelagem das
Informações de Construção, percebemos que existem diversas iniciativas na área
de projeto, porém poucas evoluíram para a obra. Se a dúvida é como será
implantar processos de BIM em contratos de gerenciamento de obra ou quais serão
as dificuldades e barreiras, assim como as novidades, podemos dizer que os
ganhos serão muito significativos e fáceis de apurar, pois é na obra que está o
grande volume de dinheiro e é onde ocorrem os problemas e atrasos.
A primeira aplicação que
se tem em mente ao pensar no gerenciamento usando o BIM é o 4D, ou seja, o
acompanhamento do modelo tridimensional associado ao cronograma. Em outras
palavras, o tempo como a quarta dimensão. Para a montagem no 4D, é necessário
ter os modelos das diversas disciplinas plenamente compatibilizados, ou seja,
modelos com todas as interferências e conflitos já sanados, pois não faz
sentido associar um planejamento a um modelo com problemas.
Em um processo tradicional
não há esta capacidade de detecção de interferências de forma tão simples e
rápida, assim é comum ter alguns aspectos que passam desapercebidos. O
gerenciador fará seu planejamento e elas serão notadas na obra. No processo
BIM, elas iam aparecer.
Este ponto,
necessariamente, leva à antecipação de discussões que fatalmente iriam
acontecer ao longo do gerenciamento para seu início. A fase inicial do
gerenciamento ganha um protagonismo e uma capacidade de agregar muito valor ao
serviço, revisando o modelo, eliminando problemas e reduzindo riscos. A equipe
e o esforço a ser considerado nesta fase deve ser incrementado, agregando além
do conhecimento em planejamento e aportando know-how construtivo e de produto.
No decorrer do contrato,
há possibilidade de aplicação de uma série de novas tecnologias que automatizam
o processo, eliminam trabalho e geram informações para aplicação no processo
BIM. Algumas delas são:
•
IoT - Podemos destacar o uso de beacons para o controle do fluxo de funcionários
na obra, monitorando o trânsito em áreas de risco ou, até mesmo, associando
este fluxo com os treinamentos de segurança realizados, ficando registrado no
modelo quem e quando acessou qual área;
•
Digitalização - Para geração de as build, ou registro do avanço de obra,
é de grande valia a nuvem de pontos gerada por escâneres à laser. Estas nuvens
podem ser comparadas com o projeto para indicar problemas ou validar montagens.
A nuvem também pode ser utilizada para checar processos construtivos, como
planicidade de fachada, flambagem de pilar ou nível de piso.
•
Robótica - A utilização de estações robóticas entram no lugar da tradicional
topografia. Com elas, os dados de campo são registrados no modelo de forma
automática. São equipamentos que trabalham sozinhos ou apenas com um operador e
que buscam e gravam dados diretamente no modelo BIM.
•
Realidade Virtual – Tem o objetivo de auxiliar a compreensão do modelo. Sua
aplicação é ideal para obras e projetos complexos. No gerenciamento, a
aplicação está na associação do modelo ao cronograma para pleno entendimento
dos cenários e avanço da obra. Ideal para salas de situação e gerenciamento de
obras em locais remotos.
A entrega do trabalho de
gerenciamento também deve ser alterada. A produção de documentos deve perder a
importância. Dados do gerenciamento inseridos dentro do modelo vão ser muito
mais úteis que documentos. Relatórios vão ser menores e ficar restritos às
análises do gerenciamento e não mais conter dados e mais dados, como os
relatórios atuais. Para o cliente final, que vai utilizar o modelo BIM para a
fase de operação, não interessa as informações em forma de texto dentro de
documentos, mas sim tê-las em base de dados estruturada e associada ao modelo
BIM.
*Marcus
Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, presidente do
Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro da ADN
(Autodesk Development Network) e do RICS (Royal Institution of Chartered
Surveyours).