Por Marcus
Granadeiro*
A ruptura ocorrida na ponte da
Marginal Pinheiros, uma das principais vias de acesso da maior metrópole
brasileira, levantou precedentes para questionarmos a importância do
armazenamento e da gestão de documentos, procedimentos que possibilitam dar o
diagnóstico completo e mais rápido do incidente para que a obra de reparo fosse
iniciada.
Porém, é sabido que a guarda e a
gestão de documentos são vistas como custos e não são preocupações valorizadas
pela Engenharia, principalmente quando falamos de obras públicas. O fato é que
os dados só são procurados quando problemas e conflitos começam a florescer, na
maioria das vezes, quando o cenário já é caótico.
Se durante as fases de projeto e obra
já é assim, imagina após a sua entrega. É raro encontrar empreendimentos com
orçamento para manter os dados e informações ao longo do tempo. O comum é
receber o databook, que é colocado em algum armário e, infelizmente, nunca é
usado. Não é incomum que ele se perca ao longo do tempo ou, até mesmo, que
nunca tenha existido de forma plena, pois não são todos que conferem a
documentação que recebem.
A informação e os documentos são bases
para qualquer operação de facilidades ou sistema de manutenção. São organismos
vivos, que precisam ser mantidos e atualizados dentro de processos e de
mecanismos de governança que garantam sua integridade. Qualquer obra demanda
manutenção e qualquer manutenção demanda informação e documentos.
E então o mercado segue muito agitado
em relação ao BIM (Business Information Model) por se tratar de um viaduto
importante que se rompe e não se tem os projetos para estudar a solução de
correção. Será que não estamos querendo correr antes de aprendermos a andar?
Não quero com isso condenar a
iniciativa de BIM que vem sendo, de alguma forma, incentivada ao uso nos
projetos de obras públicas, mas alertar da importância de nos preocuparmos com
processos e investimentos básicos que ainda não estão sendo feitos. Pontes
erguidas são um problema atual e estão em alerta. É hora de revermos, com
urgência, o que deve ser feito de básico antes de ampliarmos as capacidades de
controle para aquele que é o mundo perfeito.
*Marcus
Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP,
presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro
da ADN (Autodesk Development Network) e do RICS (Royal Institution of
Chartered Surveyours).