por Marcus Granadeiro*
Fevereiro de 2019 - Os recentes
problemas envolvendo obras de infraestrutura, culminando na tragédia de
Brumadinho, faz lembrar quão importante é a engenharia. Seja para o bem ou para
o mal, o seu impacto para a sociedade é enorme.
O Instituto de Engenharia de São Paulo
publicou um manifesto com pontos muito interessantes, terminando as afirmações
com a declaração de que não há falha de engenharia, mas sim falta dela.
A polêmica prisão dos engenheiros, antes
da apuração das responsabilidades e análise das provas, sob o argumento de
possível destruição de provas, leva a pensar em uma eventual falha, ou falta,
de um sistema de informação. Os documentos, dados e evidências que embasaram o
laudo, assim com todas as informações sobre a operação e a leitura dos
sensores, desde a inspeção que produziu o laudo até o rompimento, deveriam
estar documentadas em um sistema com rastreabilidade e sem possibilidade de
serem maculadas.
Marcus Granadeiro |
Sendo assim, qual o risco que as provas
estariam correndo? Falta tecnologia neste universo. O blockchain, que foi
criado para garantir a segurança das informações registradas, resolveria todo o
problema que emana a apuração deste caso no que tange aos dados relacionados
aos laudos em questão. Para os leigos entenderem, fazendo uma analogia, é como
se estivéssemos “escrevendo em pedra”. Não depende de nenhum ente central,
todos os stakeholders tem uma cópia dos registros.
A tecnologia nasceu com a base das
criptomoedas, mas já há aplicações para armazenar dados de engenharia. Alguns
importantes projetos privados de barragens já fazem uso para sua gestão
própria. Então, por que o governo não cria uma regra exigindo uma carteira de
blockchain para projetos de infraestrutura? Projeto, inspeções e,
principalmente, a operação. Tudo “registrado em pedra”, com responsáveis e sem
a possibilidade de se apagar ou macular.
Se o argumento era de que não havia uma
tecnologia com este porte e que fosse barato, simples e eficaz, agora já é
possível. Alguns olham para este modelo de tecnologia apenas para as questões
financeiras e de suprimentos, mas usá-la para segurança e contratos de
infraestrutura é uma aplicação perfeita para o Brasil. A engenharia pede
transformação digital. Isso é quebra de paradigma, isso é inovação.
*Marcus
Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, presidente do
Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro da ADN
(Autodesk Development Network) e do RICS (Royal Institution of Chartered
Surveyours).