por Marcus Granadeiro*
Março de 2019 – Quando temos alguma
doença e vamos buscar um médico ou um hospital, optamos sempre pelo melhor que
podemos, não pelo mais barato. Isso acontece porque temos entendimento sobre a
consequência de um mal atendimento ou de um mal profissional. Quão mais grave a
doença, maior nosso empenho na busca da excelência no atendimento.
Infelizmente este entendimento não
existe quando o assunto é engenharia. Quando se fala em projetos, obras e
principalmente em manutenção, tudo é custo. A busca sempre será orientada por
menores custos e a qualidade parece algo supérfluo.
O problema é que a má engenharia, o
projeto pobre, a obra mal gerenciada e a execução incompetente acabam custando
mais e causando graves consequências. Quando este cenário é associado com uma
má gestão, a bomba relógio está ativada.
É isto que estamos vendo acontecer no
Brasil em várias circunstâncias e, como último exemplo, podemos citar o
problema que vimos em São Paulo nesses últimos dias, que com apenas uma noite
de chuva intensa foi registrado doze mortes e muitas perdas residenciais e
comerciais.
Marcus Granadeiro |
Não é falta de tecnologia. O BIM
(Building Information Modeling) e as diversas tecnologias relacionadas ao tema
de cidades inteligentes, associadas com geoprocessamento, tem capacidade de
prever e evitar tudo que estamos sofrendo. Não é falta de engenharia. Mesmo
fazendo na “mão”, temos profissionais e conhecimento para resolver. E não é
falta de dinheiro, pois nada custaria mais caro do que todas as vidas perdidas
e transtornos que estamos vivendo, além de todos os prejuízos sofridos em
acidentes, enchentes e problemas com nossas infraestruturas.
É falta de visão, o que endossa a
necessidade de mudança de mentalidade. É necessário entender que a engenharia
não se compra pelo preço, mas pela qualidade. Entender que fazer bem não é
fazer barato, mas fazer direito, e que não se deve improvisar ferramentas e
recursos, mas usar os adequados.
Vamos olhar os bons exemplos de fora,
quão aparelhadas e quantos recursos têm as concessionárias, departamentos de
infraestrutura e empresas de engenharia. Temos um desafio muito grande! Nossas
cidades têm uma infraestrutura caótica e pouca gestão entre os diversos
players, mas com ajuste no modo de encarar e ver a engenharia, muito pode ser
feito e em pouco tempo.
*Marcus
Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP,
presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro
da ADN (Autodesk Development Network) e do RICS (Royal Institution of
Chartered Surveyours).