Por Rodrigo Castro*
A prevenção de perdas de estoque no
ambiente dos negócios pode significar a sobrevivência da empresa. Dados
divulgados pela Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abreppe) revelam
que as perdas no varejo em 2017 atingiram R$ 19,5 bilhões no Brasil. Para
muitos varejistas, reduzir perdas se tornou mais que uma prioridade.
Antes, em um cenário econômico diferente
que do que vivemos hoje, aumentar o preço e a base de consumidores eram
estratégias aplicáveis que geravam resultados positivos e equilibravam a
balança das perdas. Atualmente, a realidade é outra. Com a redução da inflação,
o aumento da concorrência e a crescente maturidade do mercado consumidor,
aumentar o preço não é mais uma opção. Então, para garantir e manter resultados
positivos, a saída é uma só: reduzir custos. E no mercado de bens de consumo, a
linha de estoques é a que chama mais atenção.
Rodrigo Castro |
As perdas são danosas para qualquer
empresa, independente do seu tamanho. Prevenir perdas de estoque é garantir que
o investimento na compra de mercadoria seja revertido em receita para a
companhia e, ao contrário do que pensa o senso comum, furtos e roubos, apesar
de representativos, não são as principais causas das perdas. Os grandes violões
são a avaria, o vencimento e a maturação dos produtos, e esses devem ser
controlados. A conversão de receitas maiores com o mesmo Custo de Mercadoria
Vendida (CMV) aumenta as margens e, para perenizar este resultado, são
necessários quatro componentes básicos: apuração, governança, cultura e
execução.
O primeiro componente, de apuração,
refere-se basicamente em garantir que os processos de contagem periódica do
estoque sejam realizados de forma acurada e recorrente. A diferença entre o
estoque computado no sistema e o estoque físico dimensiona o quanto deste foi
desviado do seu objetivo final, que é gerar receita. Para garantir um melhor
registro de perdas, algumas empresas possuem também instrumentos para segregar
os desvios em perdas não identificadas (furtos e roubos) e perdas identificadas
(avaria, vencimento e maturação).
O segundo componente, que é a governança
das perdas, consiste em criar mecanismos para dar transparência aos resultados
de perdas e comunicar todas as camadas do negócio periodicamente sobre estes
resultados para que a tomada de decisão e a remoção de barreiras seja feita
tempestivamente. Comitês corporativos multidisciplinares, com participação de
diversas áreas do negócio, é fundamental, pois a perda ocorre por motivos
sistêmicos e interconectados.
O terceiro componente para redução de
perdas é a mudança de cultura que consiste em evoluir o modelo da ‘venda a
qualquer custo’ pela ‘venda com rentabilidade’. A mudança de cultura passa pela
disseminação de campanhas de comunicação interna sobre o tema prevenção de
perdas, aplicação de treinamentos teóricos e práticos para as camadas de
operação e planos de incentivo diretamente ligados aos resultados de perda do
negócio.
O quarto componente, mas não menos
importante, é a execução de ações para redução de perdas, considerando
melhorias nos processos, nos sistemas, nas tecnologias e na infraestrutura do
negócio. Investimentos para aprimoramento das ferramentas visando prevenir
perdas são importantes para garantir resultados eficazes e perenes no negócio.
Prevenir que as perdas aconteçam é um
esforço constante e contínuo com começo, meio e fim, ou seja, é preciso
identificar, reduzir e controlar as perdas. É muito comum observar empresas
que, ao tirarem seu foco de algum desses pontos, acabam vendo seu lucro virar
prejuízo. O que significa que não basta investir apenas em um dos pilares. É
preciso manter a energia constante ao longo da caminhada para que os resultados
sejam perenizados.
*Rodrigo
Castro é
diretor de riscos e performance na ICTS Protiviti, empresa especializada em
soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação,
proteção e privacidade de dados.