A 4ª edição do maior e
mais completo levantamento sobre o perfil ético do profissional brasileiro
analisou aproximadamente 5 mil profissionais de diversos níveis entre 2017 e
2018. A análise evolutiva do comportamento dos profissionais diante de dilemas como
corrupção, fraude e suborno sinaliza influência do cenário político e econômico
sobre o ambiente corporativo
Como
está a percepção ética do trabalhador brasileiro frente aos acontecimentos
políticos ocorridos nos últimos dois anos? As decisões morais do profissional
brasileiro se alteraram diante das mudanças do cenário econômico e político? A
resposta para estas perguntas está na 4ª edição da pesquisa bienal “Perfil
Ético dos Profissionais Brasileiros”, realizada pela consultoria de Gestão de
Riscos, Ética e Compliance, ICTS Protiviti.
O
estudo, que contou com a análise do grau de flexibilidade moral de 4.784
colaboradores de diferentes níveis hierárquicos, identifica o comportamento
destes profissionais frente a dilemas éticos vivenciados no ambiente
corporativo, mapeando como agiriam em relação a temas como: apropriação
indébita, gratificação indevida e vazamento de informações.
A
análise aponta que 57% dos profissionais apresenta grau de flexibilidade moral
médio, situação em que o comportamento do indivíduo pode ser influenciado por
pressões externas. Este ponto traz um alerta, vez que na edição anterior do
estudo, divulgada em 2017, este índice correspondia a 36% dos colaboradores. Ao
verificar que o grupo de profissionais com menor propensão para se corromperem
(graus de flexibilidade média-baixa e baixa), caíram de 50% para 19% entre 2017
e 2019, conclui-se que, de forma geral, os colaboradores tornaram-se mais
propensos a compactuarem com condutas antiéticas no ambiente corporativo.
“Analisando
os possíveis fatos que podem ter influenciado este grau de flexibilidade,
podemos considerar o desaquecimento da exposição da Lava Jato na imprensa,
tornando-se um assunto mais corriqueiro e menos mobilizador, principalmente
após a prisão do ex-presidente Lula, assim como os menores investimentos nos
controles das empresas, o medo do desemprego e a juniorização de cargos, estes
três últimos estimulados pela crise econômica”, relata Heloisa Macari,
porta-voz da pesquisa e diretora executiva da
consultoria ICTS Protiviti.
Para a
executiva, o ápice de movimentos populares em prol da ética foi refletido na
baixa flexibilidade moral do trabalhador brasileiro. Ou seja, antes não fazia
sentido compactuar com uma conduta antiética. Agora, houve um afrouxamento
desse cenário e as empresas devem refletir sobre os cuidados a serem tomados.
“Num primeiro momento, as empresas passaram a adotar os canais de denúncia e as
pessoas ampliaram seus relatos numa tentativa de autoproteção. Agora, a atenção
das empresas deve ser a de conhecer melhor o comportamento de seus
colaboradores e, acima de tudo, focar numa cultura ética interna para que os
problemas não voltem a acontecer”, explica Heloisa.
Este
cenário é suportado por outros indicadores do estudo. Do grupo analisado, 71%
falariam sobre erros próprios ou de terceiros que pudessem gerar prejuízos à
organização se, e somente se, o ambiente corporativo trouxesse segurança,
inclusive contra retaliações. Em contrapartida, 28% reportariam tais situações
independentemente de fatores externos. Na edição passada, este número era
maior, chegando a 35%. O mesmo ocorre sobre a convivência com atos antiéticos.
Apenas 29% dos profissionais disseram que não aceitariam essa situação. Na
edição anterior, 47% fizeram essa afirmação.
Em
relação ao tratamento de informações confidenciais, que avalia o grau de
compreensão e respeito que o colaborador apresenta ao tratar questões de sigilo
profissional, 59% usariam informações se estivessem sob pressão ou buscando uma
recolocação profissional, enquanto 41% não repassariam dados confidenciais. Na
edição anterior, 63% não usariam esses dados em benefício próprio. E quando o
assunto é pagamento ou recebimento de proprinas, 58% dos profissionais
condicionariam sua decisão a fatores externos.
“Nesta
edição, percebe-se uma migração dos profissionais de alta e de baixa
flexibilidade ética para o nível médio e médio alto, o que mostra que há riscos
para as empresas quando o assunto é flexibilidade moral. Isso significa uma
necessidade de maior intensidade das ações educativas, de controle e de gestão
de pessoas nas organizações frente a um cenário de crise
sócio-política-econômica que afetou a flexibilidade moral dos profissionais
brasileiros”, finaliza Heloisa Macari.