Por Livia Cuiabano *
Assédio é um daqueles temas espinhosos
nas corporações. Quando um caso de assédio aparece, seja moral ou sexual, o
clima corporativo é abalado, a privacidade dos envolvidos fica vulnerável, as
opiniões se dividem, há temor, insegurança e polêmica internas e, em caso de
repercussão na mídia, abalo na imagem e reputação da empresa.
Estudos da consultoria ICTS Protiviti
destacam que, no período de 2012 a 2018, numa amostra de 137 empresas, 8,4% dos
relatos submetidos ao canal de denúncias se referiram a assédio moral e
sexual. Na busca por um plano de ação consistente e eficaz para prevenir
o assédio no ambiente corporativo, destaco 05 pontos relevantes a serem
considerados. Afinal, como combater este mal?
1) Estratégia: defina
a maneira de encarar o problema
A primeira ação para eliminar a
potencial ocorrência de assédio na organização é definir a estratégia para
combatê-lo. Esta definição reflete a postura corporativa alinhada com uma
cultura ética organizacional da qual, antes de tudo, a alta gestão deve se
apropriar. Deve ir além de conhecer as possíveis implicações sob o viés
trabalhista, criminal, civil e administrativo com responsabilização ao agressor
e à empresa. Envolve atração e retenção de talentos, bom clima interno,
diversidade e outros fatores que se conectam com planos de crescimento dos
negócios e expansão geográfica, por exemplo.
Atentar para características culturais da região onde a empresa atua e conhecer o perfil dos colaboradores é igualmente decisivo para se estabelecer uma estratégia que leve a abordagem à compreensão de todos, transformando a forma de pensar e agir.
Atentar para características culturais da região onde a empresa atua e conhecer o perfil dos colaboradores é igualmente decisivo para se estabelecer uma estratégia que leve a abordagem à compreensão de todos, transformando a forma de pensar e agir.
2) Normativos: determine o que é ou não
aceitável na instituição
É fundamental que as regras sejam
formalizadas por escrito. O código de ética é o primeiro passo, que poderá ser
complementado por políticas e procedimentos específicos. Os comportamentos e
atitudes esperados devem ser listados, assim como os que não serão tolerados. A
linguagem e os exemplos devem ser compatíveis com a realidade da organização.
3) Treinamentos e ampla
comunicação: oriente e divulga
Do conselho à operação, todos devem ser
orientados clara e regularmente dos parâmetros e valores da empresa que ditam o
respeito como condição indispensável para a convivência no ambiente de
trabalho. Para tanto, devem ser organizados treinamentos periódicos orientando
sobre as condutas reprováveis e as balizas éticas pré-estabelecidas. Eles devem
se amparar, ainda, em ações de comunicação e endomarketing efetivas para a
conscientização quanto à repulsa ao assédio, como mensagens institucionais,
vídeos educativos, dinâmicas interativas, cartilhas, games, etc. Medidas que
tornem vivo o assunto entre os colaboradores, de forma simples, colocando o
respeito como ordem do dia nas interações profissionais. É indispensável a
customização para cada público-alvo.
4) Canal de denúncias e processo de
investigação: escute e apure
É imprescindível que haja canais por
meio dos quais os indivíduos possam submeter as ocorrências ou casos suspeitos,
possibilitando a realização de um processo investigativo. Eles devem ser
geridos de forma isenta, com profissionais capacitados para a escuta ativa dos
relatos de assédio. Os colaboradores precisam ter claro que a organização leva
o assunto a sério e toda denúncia será devidamente apurada, seguindo um
procedimento formal e isento para a apuração dos fatos, com total sigilo.
5) Confiabilidade e não retaliação:
estimule e proteja quem precisa ser ouvido
Tratando-se de um assunto que envolve aspectos sensíveis da esfera pessoal, é essencial compreender a dificuldade que muitas vítimas têm de trazê-lo à tona por meio de um reporte. Afinal, expor o caso é, muitas vezes, expor ofensas e constrangimentos que já atingiram sua dignidade, personalidade e integridade psíquica e física. Há de se ter o máximo cuidado para acolher a demanda de forma detalhada, confidencial e técnica. A organização deve proteger, oferecer discrição e a não represália aos denunciantes de boa-fé, de modo a proporcionar o clima de confiança necessário para que o reporte seja feito.
Tratando-se de um assunto que envolve aspectos sensíveis da esfera pessoal, é essencial compreender a dificuldade que muitas vítimas têm de trazê-lo à tona por meio de um reporte. Afinal, expor o caso é, muitas vezes, expor ofensas e constrangimentos que já atingiram sua dignidade, personalidade e integridade psíquica e física. Há de se ter o máximo cuidado para acolher a demanda de forma detalhada, confidencial e técnica. A organização deve proteger, oferecer discrição e a não represália aos denunciantes de boa-fé, de modo a proporcionar o clima de confiança necessário para que o reporte seja feito.
A intolerância ao assédio deve ser um
dos valores da organização e, o combate, um de seus princípios de conduta.
Estabelecer diretrizes escritas, treinar, orientar, disponibilizar canais de
reporte e adotar um processo investigativo profissional e isento, além de
assegurar a proteção às vítimas e denunciantes são ações que devem ser
estruturadas para se criar um ambiente de respeito e interações profissionais
saudáveis. Esses elementos, reunidos e implementados com efetivo engajamento da
alta direção, são capazes de promover uma mudança na cultura corporativa para
um local onde todos sejam ouvidos, estejam comprometidos e desejem estar: onde
o respeito não é luxo, mas sim, condição indispensável.
*Livia
Cuiabano é
especialista de compliance na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções
para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e
privacidade de dados, única empresa de consultoria reconhecida como Empresa
Pró-Ética por quatro anos vezes seguidas.