Por
Carlos Guimar
Em
qualquer situação ou lugar, a autoridade de Segurança Pública só merecerá
respeito quando estiver a favor da Lei. A tradição da força pela força e, até
mesmo o risco de expor a população para atender interesses fora dos preceitos e
do bem coletivo, nunca foi e jamais será o caminho. Fins jamais justificarão os
meios quando há vidas em perigo.
Estamos
convivendo na escalada crescente de tensões e riscos, as quais rupturas têm
sido abertamente discutidas, incluindo as de poder em todas as instâncias. Há
alto grau de risco, podendo ser considerado catastrófico, tanto pela somatória
das crises atuais, como pela condução intencional e direcionada de eventos que
presenciamos ou tomamos ciência pelos meios de comunicação.
Aqui,
entre diversas ações que necessitam urgentemente de correção é a separação
total entre polícia e política. Na sequência imediata, precisamos de mecanismos
conduzindo para uma segurança pública profissional, guardiã das Leis e
preparada para um mundo de diversidade, sem preconceitos e discriminações,
tendo como principal propósito o servir. Fato é que, em momentos como estes que
estamos vivenciando, isso é preciso estar evidente, não importa se estamos num
país de primeiro ou de terceiro mundo.
Nos
últimos dias acompanhamos o que, de fato, temos que combater: dois casos
recorrentes de atos insensatos de brutalidade nos Estados Unidos. Primeiro, com
George Floyd, que se tornou o estopim de uma nova luta racial contra a
violência. Menos de um mês depois, há poucos dias, um novo caso, de Rayshard
Brooks, morto a tiros num estacionamento de uma lanchonete. Há decepção e repudio
quando vemos aquele que se dizia um policial sufocar um ser humano e o outro
atirar pelas costas de um cidadão. E no caso Floyd, vimos na sequência o que há
de pior: uma série de posts nas redes sociais com homens brancos imitando a
cena. Lastimável.
Pelo
lado da instituição pública de segurança, vontades pessoais, vaidade e a
demonstração de força por quem integra um braço armado e contra a população a
que deve proteger, é covardia e não se discute. O extremo rigor da Lei aos
marginais, quando é necessário, precisa se limitar ao uso proporcional dos
meios e direito de defesa. Se, não, onde se encaixa a finalidade de preservação
da ordem pública, da proteção de pessoas, do patrimônio e do controle da
violência?
Ainda
vale ressaltar que despreparo e desrespeito ocorrem em qualquer lugar e não
escolhe gênero, cor e idade. Poderíamos abrir inúmeros casos grotescos contra
nossas crianças e mulheres aqui no Brasil, que nos levariam a uma estrada que
não se encontraria o fim, nos criando um mal estar insuportável de sensação de
impunidade e insegurança.
Como
descrever que ser um agente da Lei é proteger o povo e que, mesmo estando em
constante perigo, conseguirá evitar e solucionar crimes? Está fora de
qualquer propósito desmerecer ou enaltecer erros dos profissionais ou
instituições de segurança, mas temos que aproveitar o ensejo para fortalecer
estes que são a maior barreira e a última instância entre o bem e o mal.
Precisamos
criar veias fortes deste corpo único formado pela polícia e sociedade para empoderados
nos libertarem de muitos problemas que circulam. O mundo mostra que erros de
tratativas são cíclicos, porém há muito tempo não existe mais espaço para o
modelo atual.
O
que se espera num futuro bem próximo é o diálogo e não o confronto, é a construção
de pontes e não muros. É preciso lucidez em tempos de confusão e, com pequenos
passos, se iniciará o caminho da autoridade pela autoridade.
*Carlos Guimar é especialista em
segurança pública e privada e diretor associado de segurança empresarial na
ICTS Security, consultoria e gerenciamento de operações em segurança, de origem
israelense.