Por Jefferson Kiyohara
Temas em alta, tais como o desmatamento
da Amazônia, o combate ao racismo e à promoção da diversidade e igualdade de
gênero, a geração de emprego e crescimento econômico no pós-crise e o combate à
pandemia da COVID-19 têm um ponto em comum: a sigla ESG (Enveronmental, Social
and Governance), que atende aos princípios ambientais, sociais e de governança.
Não se trata de algo recente, mas que
volta a ganhar relevância nos tempos atuais. Entender a importância e a
complementariedade de cada pilar deste tripé é chave para criar negócios
prósperos e permitir o acesso a fontes de financiamento que possam gerar
emprego e renda. Na questão de sustentabilidade, esta não se limita às
temáticas verdes e de proteção à natureza. Estamos falando de proteger a
própria sociedade humana. E tem ainda os pilares social e de governança. É
possível buscar o ganho financeiro e ser sustentável.
Trazendo para uma visão de gestão de
riscos e compliance, uma empresa com práticas sustentáveis tem menos riscos,
como os de interromper sua operação por falta de insumos e de capital humano,
assim como de sofrer com multas ou sanções. É uma organização com visão
holística e que prega o respeito no seu sentido mais amplo, promovendo a
diversidade e entendendo o seu papel social na busca pela eficiência no uso de
recursos, inclusive os naturais. São vantagens mais duradouras e que podem se
traduzir em ganhos financeiros. Por tudo isto, torna-se atrativa para os
investidores.
Pensando na questão ambiental, não é
coincidência que recentemente um grupo de 29 instituições financeiras tenham
entregue uma carta ao governo brasileiro condicionando a manutenção dos
investimentos à preservação da Floresta Amazônica. É importante entender o
momento da história em que vivemos e as mudanças que a sociedade, de uma forma
geral, quer debater, e o que ela aceita e não aceita mais. E quando digo
sociedade me refiro aos diversos participantes, certamente indo além dos
investidores. Isto engloba diferentes interesses e pontos de vistas. E não é
nada fácil harmonizá-los, mas há a necessidade e os caminhos.
O momento mostra que é importante tomar
decisões que sejam éticas, pensando no curto e longo prazos, além de considerar
tanto os direitos individuais como os coletivos. É preciso estar disposto a
incorporar novos hábitos e abrir mão de práticas antigas. Extrair da natureza
de forma desenfreada, por exemplo, não é mais uma opção. Muitos associam problemas
como a pandemia ao desrespeito com a natureza. É preciso compensar, recompor,
reciclar e buscar alternativas de abordagem. E, felizmente, negócios surgiram a
partir deste entendimento, gerando empregos e renda. Veja casos como o de
geração de energia solar e eólica, os biocombustíveis, os carros híbridos e
elétricos, a reciclagem de materiais e o tratamento de resíduos, entre outros
exemplos.
Vale lembrar também que a sociedade
também mudou. Assédios são hoje mais visíveis e menos tolerados, assim como as
vítimas são ouvidas. Piadas contra minorias ou racistas não são mais aceitas
como normal e ações cometidas fora do ambiente de trabalho tem justificado
demissões em razão de atitudes antiéticas. As organizações adotaram o código de
ética e os canais de denúncia, assim como ações de diversidade, equidade e
responsabilidade social tomaram corpo. Os pilares social e governança se fazem
presentes. Ponderação e respeito, sem extremismos, é um caminho que muitos já
trilharam com sucesso.
São muitas as razões pelas quais se
busca estar alinhado com as questões de ESG. Há pessoas e organizações que vão
fazer o que é certo, simplesmente pela crença de que esta é a única opção justa
e válida. Outras pelo marketing e/ou possibilidade de ter benefícios. Se não for
motivo suficiente, há ainda o risco de dano à reputação, as perdas financeiras
e as sanções para serem levados em consideração no processo decisório,
independentemente das motivações.
E as ações não podem ser isoladas ou
feitas apenas com base na iniciativa de poucos. Coordenação e engajamento
público e privado são fundamentais, assim como as ações e os pactos setoriais e
coletivos, sem contar a devida governança dentro das organizações. O tema ESG é
sério, relevante e requer atenção por parte do Conselho e dos Executivos,
fazendo parte da estratégia e dos planos da organização, lembrando que é
preciso cobrir os três pilares de forma estruturada e coesa. E a sua
organização, está preparada?
Jefferson
Kiyohara é diretor de compliance na ICTS Protiviti, empresa
especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna,
investigação, proteção e privacidade de dados, além de única consultoria
reconhecida como Empresa Pró-Ética por quatro anos consecutivos.