Por Marcus Granadeiro
A atual pandemia vem
influenciando de forma inequívoca a adoção de novas tecnologias, acelerando a
digitalização bem mais que qualquer um dos outros fatores de indução. No
mercado de engenharia e construção, a repercussão ocorre em todas as fases.
Vemos novos métodos de venda, reuniões de projeto por videoconferência e
gestores de obra se reinventando, isso sem falar em todos os impactos no uso e
na operação.
Algumas tecnologias, como
videoconferência e assinatura digital, foram claramente incentivadas por
motivos óbvios, porém nem todas as tecnologias têm esta relação direta tão
óbvia. Vamos analisar a Realidade Virtual. Como ela ficará? As soluções que têm
como premissa a utilização de óculos compartilhados por diversas pessoas terão
futuro? Dá para dizer que a Covid-19 será responsável pela morte da Realidade
Virtual?
O nosso palpite é que não. É certo que
soluções que usam óculos em estandes de vendas de imóveis, por exemplo, e eram
compartilhados por clientes devem acabar, pelo menos até se resolver, de uma
forma ou de outra, a questão da insegurança trazida pela doença. Se este
dispositivo já enfrentava resistências em função de uma possível transmissão de
conjuntivite, por exemplo, imagina no atual cenário. Por outro lado, as
soluções baseadas em dispositivos móveis devem aflorar, pois também serão
"empurradas" pelas aplicações para a tecnologia 5G.
Quando falamos em análises de projetos,
lá fora as soluções de Realidade Virtual estão migrando para a colaboração.
Esta deve ser a tendência a partir da realização sofisticada de
videoconferências com "passeios virtuais" pelo modelo, em conjunto e
de modo síncrono, gerando registros para alimentar o workflow de análises
críticas ou integração entre obra e projeto. A utilização dos óculos, que
passarão a ser um acessório pessoal vinculado ao computador, assim como se tem
o mouse e o monitor, é um detalhe.
Enquanto o distanciamento social se
mantém, as revisões de projetos podem ser exploradas utilizando a Realidade
Virtual colaborativa, que permite a profissionais
de diversas áreas interagirem para a validação do andamento das obras, que
envolve estrutura, geotécnica, mecânica, tubulações, elétrica e automação,
entre outras. O processo on-line acelera as rotinas sem a insegurança do
contato.
E quando
avançamos para as revisões de projetos utilizando a Realidade Virtual dentro do
modelo BIM (Building
Information Modeling), é possível otimizar o tempo e o custo das áreas
envolvidas, tornando o processo mais colaborativo e ágil. Isso permitirá que o
segmento de engenharia e construção consiga evoluir na concepção e entrega de
seus empreendimentos mesmo diante da crise.
Os óculos, neste caso, são os grandes
agregadores de valor da Realidade Virtual, pois com eles conseguimos ter a real
dimensão do que está sendo projetado ou construído, empoderando os
profissionais a partir de uma visão tridimensional que apenas poucos
engenheiros ou arquitetos possuem.
*Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado
pela Escola Politécnica da USP, presidente do Construtivo, empresa de
tecnologia com DNA de engenharia e membro da ADN (Autodesk Development Network)
e do RICS (Royal Institution of Chartered Surveyours).