*Por Rodrigo Blanco
Anualmente,
o número de novas startups no Brasil cresce em torno de 20%. Hoje, temos algo
próximo de 13 mil dessas operações mapeadas no País, segundo a Associação
Brasileira de Startups (ABS). Apesar de alta, essa porcentagem de crescimento é
menor em comparação aos outros países e vemos uma concentração cada vez mais constante de
capital proveniente de investidores experientes e com sólido conhecimento de
mercado.
Com
esse pensamento de crescimento a todo e qualquer custo, a geração de retornos
malsucedidos aos investidores e a necessidade de expansão agressiva em cima do
capital arrecadado por parte das startups mostram que mesmo as bilionárias
não vivem apenas de saldos positivos. Essa cultura de injeção de capital em
empresas pela troca de participação societária é a base da construção na qual
uma grande parcela das organizações de inovação tecnológica foi erguida.
Poderia existir outra forma de fazer negócios crescerem que não seja através de
rodadas de capitalização? Sim, por meio das startups zebras.
Esse
conceito nasceu nos Estados Unidos em 2017 e é responsável não apenas por
desenvolver empreendimentos sustentáveis, mas por encorajar a ética neste
setor. Em geral, essa categoria de startups é focada numa expansão que se
sustenta e é caracterizada pelo desenvolvimento de um negócio que busca o
crescimento, mas não a todo e qualquer custo. Ou seja, seu foco não está apenas
na lucratividade, mas também numa causa a fim de corrigir problemas existentes
na atualidade, sejam eles sociais, ambientais ou voltados à saúde.
Sendo
assim, é de extrema importância o desenvolvimento sustentável desta categoria
de startups através de parcerias estratégicas que façam o investimento
financeiro e forneçam o devido suporte para essas operações poderem
entregar soluções em conjunto com as grandes corporações. Ainda mais porque, na
maioria dos casos, as organizações mais tradicionais são as que consumirão esse
tipo de serviço e potencializarão o ecossistema.
Mas o que as zebras querem,
afinal? A volta de fundamentos básicos e a possibilidade de gerir de
maneira organizada a inovação em seus negócios para que estes não sejam
apenas empreendimentos de curto prazo. Para isso, é preciso entender se o
negócio atende ao tripé: sustentabilidade ambiental, social e econômica. Uma
curiosidade é que ao contrário dos unicórnios, não são impostos rótulos às
zebras, o termo é subjetivo.
Segundo a Impact Hub
Floripa, uma empresa de Coworking brasileira que se considera parte deste
movimento, seu crescimento é de 80% ao ano. Ou seja, ser zebra não impede
a evolução do negócio, muito pelo contrário. Aliás, os fundadores dos
unicórnios brasileiros afirmam que o estímulo de capital é efetuado às
empresas que fazem parte do networking dos investidores ou que estejam sendo
acompanhadas na arena do mercado, como o caso da Kaszek Ventures e da Nubank.
Unicórnios não deixarão de
surgir, mas o mercado já se mostra cada vez mais inseguro sobre essa ascensão
dos seres bilionários. Os motivos são numéricos, como a queda das ações da Uber
em 18% e as da Slack em 47%. Os investimentos que recebem são altos, mas ao
analisar suas construções com essas aplicações, há uma contrapartida de falta
de lucratividade e de IPOs (Oferta pública inicial) malsucedidos.
Observar que esse ecossistema das zebras vive
seu melhor momento de investimentos é empolgante e muitas outras startups
devem alcançar o valuation de U$1 bilhão neste ano, mas, o que se espera é que
elas e seus investidores sejam mais cautelosos quanto aos seus gastos,
focando na sustentabilidade a longo prazo e, com isso, se multipliquem,
mantendo cada vez mais seu potencial de rentabilidade e objetivos sociais.
*Rodrigo
Blanco, consultor de Negócios Digitais e
Transformação na ICTS Protiviti, empresa
especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna,
investigação, proteção e privacidade de dados, única empresa de consultoria
reconhecida como Empresa Pró-Ética por quatro anos consecutivos.