Por Gisela Bertelli
De quase todos os ângulos de análise possíveis, a
resposta do Uruguai ao Coronavírus pode ser considerada um sucesso. Em meados
de outubro, no país sul-americano de 3,5 milhões de habitantes, haviam sido
diagnosticados menos de 2.400 casos e o total de óbitos era de 51. Segundo
especialistas, a situação se deve a uma estratégia de saúde pública voltada
para a frequência de testes e telemedicina, em vez dos confinamentos e limitações de viagens que foram
estabelecidas por outros países.
E, nos bastidores, a comunidade de tecnologia local
ofereceu voluntariamente seu próprio esforço para a rápida criação do
Coronavirus UY, um sistema de monitoramento e alerta de controle da
disseminação do Covid-19. Enquanto para o público é apenas um aplicativo móvel
de rastreamento de contatos e informações, para a infraestrutura de saúde
pública do país é um sistema de rastreamento de pandemia de missão crítica para
um país inteiro, capaz de orquestrar todos os agentes importantes envolvidos no
processo.
Utilizando a tecnologia
low-code, os especialistas
tiveram a possibilidade de colaborar e oferecer uma ampla variedade de
contribuições, ao invés de simplesmente canalizar seu conhecimento
especializado através de um pequeno grupo de desenvolvedores, ou seja, o grupo
se concentrou na solução do problema ao invés de ter que se preocupar com a
tecnologia subjacente.
O desenvolvimento do aplicativo Coronavirus UY incluiu
contribuições do governo e do setor privado, envolvendo a prestação de serviço
de mais de 30 empresas. Além da comunidade tradicional ligada à tecnologia –
cuja tarefa era o desenvolvimento do aplicativo – a comunidade médica também
foi protagonista. O grupo também recebeu a contribuição de outras figuras.
Era tarefa dos defensores da privacidade garantir a
proteção e a privacidade das comunicações e registros, enquanto os
especialistas em logística e profissionais de exames médicos contribuíam com
aspectos dos recursos disponíveis. Outros profissionais escreveram scripts para
chatbots e respostas automáticas, enquanto os responsáveis pela
acessibilidade conseguiram garantir que o âmbito de disponibilização da
aplicação, bem como a sua funcionalidade e usabilidade, fossem as maiores
possíveis entre os habitantes, independentemente do tipo de smartphone que
possuíssem ou se tinham, ou não, alguma deficiência. Da mesma forma, dezenas de
outros fatores tiveram impacto na funcionalidade do Coronavirus UY.
A questão colocada era como produzir rapidamente um
aplicativo que integrasse todo o treinamento técnico e a experiência acumulados.
Para isso, foi preciso adotar uma abordagem multidisciplinar. Em um ambiente
típico de programação, os benefícios do produto final refletem o talento do
programador e as limitações do código, e é uma verdade aceita que as restrições
de tecnologia às vezes implicam em mudança de objetivos.
No caso do app Coronavirus UY, os especialistas
tiveram que se concentrar apenas em um único objetivo, independentemente das
limitações da tecnologia. Esse objetivo era simplesmente evitar um colapso no
sistema de saúde. Assim, a equipe começou com o desenvolvimento de uma lista de
funções-chave que desejava alcançar. Ou seja, um ponto final. Vale ressaltar
que em ambientes de codificação tradicional, uma equipe de desenvolvedores
precisaria escrever o código, linha por linha para atingir esse objetivo.
Usando como base a tecnologia low-code, as
complicações foram gerenciadas de diferentes maneiras. Em primeiro lugar, a
plataforma permitiu aos usuários definir metas desde o início, já que seu
ambiente não demanda de profundo conhecimento de codificação. Isso tornou o
desenvolvimento de software muito mais rápido e a velocidade com que os
recursos do software podem ser desenvolvidos permite aos desenvolvedores
executarem prototipagem e testes rápidos para feedback e avaliação imediatos. A
partir daí, modificações e melhorias são possíveis.
Outro diferencial está relacionado a uma das
principais barreiras em produtos digitais, que é a sua adoção e a experiência
do usuário. Muitas vezes, as pessoas rejeitam aplicativos difíceis de usar ou
entender, mas no caso do Coronavirus UY, uma adesão significativa foi gerada
entre os habitantes do Uruguai.
O sucesso que o país obteve diante da pandemia contou
com os profissionais de saúde que se encarregaram de atender os pacientes, assim
como os cidadãos, que usaram mascaras e mantiveram a necessária distância
social, e o governo que permaneceu focado em preservar a segurança de seu povo.
E o aplicativo Coronavirus UY contribuiu para aproveitar ao máximo a
experiência dos profissionais do país e do qualificado sistema nacional de
saúde. Ele permitiu ao governo ter acesso a dados mais precisos sobre a
propagação da doença e facilitou a forma de fornecer aos cidadãos
aconselhamento médico adequado sobre quarentenas, testes laboratoriais e acesso
a cuidados de saúde relevantes. Em última análise, esse é o objetivo de
qualquer tecnologia: estar a serviço das pessoas.
Gisela Bertelli é vice-presidente comercial da GeneXus, desenvolvedora global de produtos para software baseados em Inteligência Artificial e responsável pela plataforma low-code do app Coronavirus UY.