por Thiago Guimarães e Pedro Barra*
Nos últimos meses, a grande dúvida dos brasileiros
tem sido “quando serei vacinado?”. As horas dedicadas para este questionamento
se dão porque a imunização representa a esperança de acabarmos com a pandemia
da Covid-19 e, também, porque é um assunto em pauta nos noticiários.
Entretanto, um ponto que não está sendo discutido, apesar de sua importância, é
quantas das doses compradas serão efetivamente recebidas e aplicadas na
população brasileira?
Devemos considerar que no caminho entre a compra e
a aplicação existe uma complexa cadeia logística que expõe as vacinas a
possíveis perdas. Da mesma forma que uma farmácia compra 1 milhão de
comprimidos de paracetamol sabendo que seus clientes não os usarão em sua
totalidade porque haverá perdas, o Governo deveria saber que não irá aplicar
100% das vacinas compradas.
Legitimando essa preocupação com possíveis perdas
de vacinas, temos a recente situação de Igarapé, no Estado de Belo Horizonte,
onde houve a suspenção da vacinação contra a Covid-19 após um defeito elétrico
nos refrigeradores deixar 229 doses de Coronavac inadequadas para aplicação.
Não são raros os casos de vacinas do PNI (Programa
Nacional de Imunização) com perdas superiores a 50%, mas as previsões são de que
a campanha de imunização da Covid-19 não atinja tal patamar em perda, pois o
principal prejuízo nesses grandes programas é a chamada perda técnica, que
acontece porque os frascos das vacinas contêm mais de uma dose e, na maioria
dos casos, não há esse exato número de pessoas para serem vacinadas durante o
período entre a abertura e o vencimento dos frascos. No caso da Covid-19, a
alta demanda pela vacinação deve reduzir tais perdas técnicas.
Mesmo assim, ainda é preciso se atentar às perdas
físicas, que são as ocasionadas por avarias, vencimentos e má refrigeração, sem
contar os furtos, desvios, falhas na expedição e recebimento, entre
outras. As perdas físicas atingem cerca de 3% a 5% do total de vacinas,
comprometendo a entrega das doses à população.
Por isso, é extremamente importante que haja
orientações acompanhadas de rígidos controles e registros de vacinas, desde o
recebimento, distribuição até a aplicação, garantindo o registro de
eventuais perdas. E, claro, o balanço de consequências e as devidas penalidades
precisam ser aplicadas. Há duas frentes de ações que podem ser
implementadas para reduzir as perdas:
- Estruturação de um Programa
de Gestão e Prevenção de Perdas, considerando três aspectos:
- registro
das informações de compra, distribuição, aplicação (primeira e
segunda dose) e perdas das vacinas (tanto as desconhecidas
quanto as identificadas);
- análise
diária dos números de perda, para identificação e correção das suas
causas;
- promoção
da cultura de prevenção de perdas, ou seja, comunicação constante sobre
os impactos e as ações para redução de perdas;
- Além do programa, a segunda
frente de ação está relacionada ao uso de tecnologias para essa
redução de perdas, como o monitoramento de temperatura, que pode
gerar alertas caso exista risco de perda por armazenamento fora das
recomendações dadas pelo fabricante, possibilitando ações preventivas,
como a transferência das vacinas. Outro exemplo do uso de tecnologias
nesta frente é a utilização de controles operacionais em aplicações e
dispositivos móveis para melhorar os processos de recebimento e expedição
de vacinas, controle de armazenamento e garantia de aplicação das doses,
possibilitando rastreabilidade do início até o fim do processo.
Implementando tais iniciativas e tecnologias
poderemos reduzir possíveis perdas de vacinas e mais rapidamente sanar essa
dúvida que está afligindo milhões de brasileiros: cadê minha vacina?
*Thiago Guimarães
e Pedro
Barra são gerentes seniores de riscos e performance na ICTS Protiviti, empresa
especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna,
investigação, proteção e privacidade de dados.