por
André Ferreira*
O cobre é um metal de grande flexibilidade e um
excelente condutor elétrico. Dada essas características, ele é amplamente
utilizado na indústria e, hoje, as empresas de telefonia, internet e
distribuição de energia são algumas das principais consumidoras desse metal.
Para que essas empresas levem seus serviços até seus clientes, são aplicadas
milhas de cabos distribuídos por toda parte, principalmente em grandes centros
urbanos, seja de forma aérea, com o uso de postes ou por galerias subterrâneas.
Com tantas possibilidades para uso do cobre, nos
últimos anos aumentou o número de casos de furto de cabos nos grandes centros
urbanos. Um levantamento feito pelo Sindicato das Empresas de Telecomunicações
divulgado em 2019 apontou que quatro milhões de metros de cabos de cobre foram
furtados no Rio de Janeiro, gerando um prejuízo estimado em R$ 700 milhões por
ano.
Além disso, temos um custo indireto com um
altíssimo número de clientes impactados. Dentre esses clientes temos hospitais,
delegacias, comércios e delivery, o que gera um grande impacto social com o
prejuízo desses serviços essenciais que são acometidos. E não podemos esquecer
também da pessoa física, que, em tempos de pandemia, trabalha em home office.
Todo esse impacto financeiro e social é elevado por essa “indústria paralela”
de mineração do cobre.
Na maior parte dos casos, os furtos de cabos são
realizados por pessoas em situação de rua e dependentes químicos, gerando a
carga necessária para a manutenção do vício. Essa é a primeira camada na
pirâmide de atores envolvidos nesse crime e a atuação da polícia prendendo
essas pessoas não gera o resultado esperado, pois trata-se de um crime de menor
potencial ofensivo e a volta dessas pessoas para as ruas é quase que imediata.
Fato é que o furto só ocorre porque tem quem compra o material roubado.
Na segunda camada da pirâmide temos os
receptores, que na maioria são sucatas de pequeno porte, normalmente instaladas
em áreas carentes e dominadas pelo tráfico de drogas ou por milícias. Nesses
locais, o material, já decapado e queimado pelos atores da primeira camada da
pirâmide, é revendido para sucatas de maior porte ou diretamente para as
grandes usinas.
No topo dessa pirâmide estão as grandes usinas de
cobre. Nessa camada é quase impossível a rastreabilidade da origem da matéria
prima, que é triturada e reprocessada para entrar novamente no mercado,
inclusive voltando para as empresas nascidas do roubo.
O combate a esse tipo de crime pela segurança
pública deve se concentrar nos receptores, pois já está provado que a prisão
dos executores dos furtos é como enxugar gelo. Ações de inteligência para
chegar aos receptores e a execução de penalidades mais rígidas são os caminhos
para a diminuição dessa modalidade de crime. Entretanto, a participação das
empresas impactadas é fundamental, realizando o registro das ocorrências para o
levantamento de dados, como locais e horários de maior incidência. Além disso,
é preciso garantir a identificação do cabo para caracterização do crime de
furto ou recepção.
Também é importante o envolvimento de outros
órgãos públicos, como o Ministério do Trabalho e os órgãos de fiscalização e
proteção ambiental, pois as sucatas não só compram cobre de procedência
ilícita, como exploram o trabalho semelhante ao escravo, com ambientes laborativos
insalubres e jornadas de trabalho exploratórias. Isso sem contar os diversos
crimes ambientais, como o descarte inapropriados de equipamentos orgânicas e de
alta degradação ambiental.
Em paralelo, as empresas vítimas precisam adotar
medidas para diminuir seus índices de furto. Nos últimos anos, as empresas de
telefonia iniciaram um trabalho de descomissionamento das estruturas que
utilizam os cabos de cobre e os cabos metálicos derivados substituindo por
fibra óptica, material que não tem valor comercial. Contudo, esse trabalho leva
tempo para atingir um nível ideal a ponto de gerar resultados nos índices
futuros. Outro ponto importante é que, comumente, os cabos de fibra óptica são
confundidos com cabos metálicos e acabam sendo vandalizados, ainda gerando
impacto para os clientes dessas empresas.
É fato que as empresas impactadas por esse tipo
de crime precisam adotar medidas para mitigação desse tipo de risco e sozinhas
as chances de sucesso diminuem bastante. A ajuda de empresas especializadas em
segurança permite que novas soluções sejam encontradas e implantadas, gerando
resultados efetivos e evitando o risco de investimentos em ações equivocadas
que não tenham o resultado esperado.
*André Ferreira é consultor
sênior de segurança empresarial na ICTS Security, empresa de origem israelense
que atua com consultoria e gerenciamento de operações em segurança.