Inflação descontrolada no Brasil: um descompasso ao crescimento de 2021

Por Paulo Zirnberger de Castro

 

Depois do impacto da pandemia, os últimos meses de 2020 foram marcados por uma certa euforia do mercado quanto às possibilidades de negócios para o ano que se iniciava. As novas oportunidades trazidas pela digitalização, assim como a redução nos juros para o financiamento da casa própria, que impulsionou a indústria da construção civil, são alguns exemplos. Pena que a agitação durou pouco com o fantasma da inflação batendo na nossa porta e os custos galopantes.

Falar de inflação é muito ruim no mundo dos negócios, pois ela impacta diretamente nos planos e está intrinsicamente ligada ao custo Brasil, que já é um dos maiores do mundo em função da nossa situação estrutural e política. Infelizmente convivemos com a marca de sermos pouco competitivos, o que afeta as decisões de investimento. Claro que uma operação internacional, ao decidir onde vai investir diretamente, analisa todas as possibilidades e está à espera da melhoria e das reformas por aqui.

As razões são muitas e o efeito dominó desanimador: um IGP-M na casa dos 37% inviabilizando a indexação de contratos, custo de mão de indo na mesma direção, inflação passando da meta máxima prevista para o ano, dólar alto e, consequentemente a desvalorização da nossa moeda, matéria prima mais cara, problemas na produção e por aí vai. Isso sem falar das incertezas jurídicas, da ausência de direção e da desconfiança política. Tudo isso reduz os estímulos da economia e afeta nosso crescimento. A guerra pelo dinheiro no mundo é grande e o Brasil está perdendo espaço para outros países porque se tornou pouco atrativo ao investimento na produção de bens e serviços.

Por outro lado, nosso Produto Interno Bruto está crescendo, o setor agrícola decolando e colocando nossa nação numa posição de celeiro de alimentação global e vemos alguns setores produtivos se encaixando num cenário incerto. Olhando por este lado, conseguimos hastear nossa bandeira, mas às custas de um rastro de sangue. Apesar dos pesares, uma coisa é certa: aprendemos a viver na corda bamba. Enquanto um cenário de inflação soa como o fim do mundo para os americanos, que viveram em descontrole na década de 70, por aqui sempre fomos nos adaptando.

Na minha visão de operar uma empresa global no Brasil, a meta é continuar acreditando no País e investindo de forma segura, ou seja, organicamente, até que essa nebulosidade diminua. E se as empresas não almejam ampliarem suas operações, a mensagem agora é cuidar bem da operação presente.

Diante desse cenário, que ainda conta com um sistema tributário que corrói os empreendimentos, a ordem é aplicar a inteligência nessa rotina. Melhorar a rentabilidade por meio de medidas tributárias cabíveis evitará o repasse de custos aos clientes e, no efeito cascata, essa decisão impulsionará os negócios e ajudará as empresas a enfrentarem o cenário atual.

 

Paulo Zirnberger de Castro é country manager da Sovos, pioneira em Digital Tax para o compliance fiscal de empresas.