Investigação corporativa exige inteligência, contrainteligência e trabalho em campo

 por Eloiza Oliveira e Iuri Camilo *

É natural que, ao falarmos de investigação em campo, logo imaginarmos detetives particulares averiguando relações extraconjugais por meio da “campana”, conhecida popularmente como o ato de espreitar ou vigiar de longe um cônjuge infiel. Entretanto, até as investigações corporativas podem incluir campanas.

Muitas investigações são iniciadas ou finalizadas com trabalhos em campo para confirmar indícios e evidências, sendo comum a utilização de tais atividades para complementar background checks, ou seja, levantamento de vínculos; investigações de vendas irregulares, como clientes ocultos ou clandestinos; e seguimento de cargas, que comprovam o desvio e possibilitam o flagrante, dentre outras atividades.

Nesses casos, utilizam-se dos artifícios de acompanhamentos; vigilâncias; monitoramentos; câmeras identificadas ou ocultas em ambientes; escutas e varreduras de ambientes e contatos com abordagens diretas, cabendo às empresas definirem sua estratégia de acordo com sua necessidade.

Nas situações reativas, ou seja, quando o fato já ocorreu, a empresa deve decidir qual a melhor estratégia para responder ao incidente, identificar os envolvidos, coletar evidências, interpretar vestígios e estabelecer conexões, entre todos os elementos que compõe o cenário, e por fim, aplicar a política de consequências de forma educativa. Já no que se refere à infiltração de agentes, essa é uma demanda crescente, cujo objetivo é inserir por um longo período, no mínimo três meses, um agente no setor ou área específica onde existe suspeita de irregularidade.

Contudo, a atividade exige tempo e recursos financeiros das empresas. Por isso, é importante analisar se a é estratégia viável antes de enviar equipes a campo, delimitando o plano de ação em termos de custo-benefício. Aqui, entra a inteligência corporativa, responsável por dar às organizações os artifícios tanto para responder aos atos irregulares quanto se antecipar, pois identificada a vulnerabilidade, o trabalho em campo sempre resultará em recomendações para a revisão ou criação de controles. Portanto, a inteligência está intrinsicamente relacionada à prevenção e à governança.

Em muitos casos, as empresas não têm estrutura suficiente ou específica para responder de forma efetiva ao ato irregular, sendo necessário o uso de consultorias especializadas. É uma opção eficaz para que a investigação não seja colocada em risco, pois a condução é realizada por profissionais qualificados para tais atividades e de maneira independente. Mas, antes de contratar terceiros, é importante verificar a capacidade técnica e operacional de determinada consultoria para evitar possíveis falhas de execução que arrisquem a operação.

Além da campana, o trabalho em campo envolve teoria, tendo os relatórios que detalham a atividade para que qualquer pessoa possa compreender com clareza todas suas etapas. Outro ponto de atenção é a contrainteligência, que se refere à proteção. As empresas podem adotar trabalhos em campo para protegerem seus ativos e suas informações sensíveis que, eventualmente, possam ser alvo de desvios e, ou, extravios, furtos, sabotagens e espionagens, entre outros.

Culturalmente, somos especialistas em esperar o fato acontecer para tomar providências. Seja por desconhecimento ou custo, as empresas não costumam proteger seus ativos, sejam eles físicos, intelectuais ou digitais. O medo pelo desconhecido pode ser solucionado com um começo simples, sendo uma varredura ambiental em salas, veículos, fábricas ou polo industrial, que ajuda a proteger a organização de ameaças atuais ou futuras.

Agora, se o impedimento for custo, uma alternativa é ampliar escopos de trabalho com parceiros que sejam especialistas em gestão de riscos e compliance para incluir uma varredura esporádica e aleatória de ambientes ou incluir GPS em veículos empresariais, monitorando o trajeto e a mercadoria, dentre outras atividades que visam proteção ou rápida identificação do ato irregular.

Portanto, podemos concluir que as investigações em campo – desde que executadas com estratégia, inteligência e contrainteligência, são ferramentas fundamentais para solucionar ameaças atuais, assim como identificar vulnerabilidades e riscos operacionais, prevenindo irregularidades e, principalmente, protegendo aqueles que são os ativos mais preciosos da empresa, os funcionários. 

 

*Eloiza Oliveira é gerente sênior de Investigação e Iuri Camilo é consultor pleno de Investigação. Ambos atuam na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.