por Jefferson de Oliveira Monteiro*
O
leite sempre cumpriu um papel importante na alimentação da humanidade. O seu
consumo remete a mais de 11 mil anos e, atualmente, bilhões de pessoas o
consomem no mundo, sendo o Brasil o quarto país no ranking mundial de produção
de leite, de acordo com Embrapa (Empresa Brasileira de pesquisa
Agropecuária).
Com
o aumento da demanda, inúmeras fraudes foram deflagradas na composição do leite
e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) instituiu
normativas que ampliaram as exigências de qualidade que envolvem a política
leiteira.
Para
acompanhar o crescimento do mercado consumidor e todas as exigências vigentes,
o produtor rural tem profissionalizado a sua gestão por meio da participação em
programas educativos e de incentivos, que elevam os níveis de qualidade e
produtividade nas propriedades rurais.
A
produção de seus derivados na cadeia de suprimentos do leite desempenha um
papel fundamental em sustentar a rotina dos profissionais envolvidos sem
comprometer a qualidade, gerando cada vez mais eficiência operacional. O grande
desafio da gestão logística no mercado leiteiro é promover fluidez em toda
cadeia, pois hoje são inúmeros gargalos na operação que precisam ser
monitorados incessantemente. Para isso, o grande agente transformador é a
tecnologia.
Captar
milhões de litros de leite com a qualidade necessária exige uma gestão do
relacionamento com a base fornecedora. O engajamento pode ser promovido com
aplicativos móveis, que visam direcionar, instruir e informar os fornecedores,
seja o transportador ou o produtor rural.
Os
gestores da logística de transporte interagem rotineiramente com inúmeras
variáveis na sua rotina. Na relação com o produtor, por exemplo, comunicar-se é
fundamental. Só assim é possível ter, em tempo hábil, informações como
alterações de horário na ordenha, que impactam no atendimento da coleta e
recebimento de prévias de disponibilidade de volume de leite, já que a
capacidade de armazenar na fazenda não significa produção real.
Diante
deste cenário, a indisponibilidade do leite precisa ser analisada
constantemente, seja por falta de produção na propriedade rural ou impedimentos
físicos e de qualidade, como estradas bloqueadas, desvios não planejados e
temperatura do leite entre outros. Sem essa gestão são inúmeros os impactos na
densidade logística, que envolve deslocar um veículo para circular sem atingir
a capacidade mínima ao fim da rota.
O
planejamento e a execução da coleta de leite no chamado transporte de primeiro
percurso, ou seja, o leite cru transportado da fazenda para o laticínio, é uma
das etapas mais suscetíveis a fraudes e falhas operacionais, por isso o
carreteiro, exposto a condições adversas, precisa de direcionamento e apoio
constante. Entregar na palma da mão todo o planejamento do dia e proporcionar
um processo automatizado evitam grandes perdas. Além disso, ter a visibilidade
do que fazer, como fazer e, de forma imperceptível, informar todas as
ocorrências, desvios e gerar alertas, é um grande ganho para toda cadeia
leiteira quando se aplica a tecnologia.
Outro
fator relevante propiciado por um sistema informatizado é ter a previsibilidade
da chegada do veículo, permitindo evitar o trânsito nas plataformas de
carregamento e recebimento das indústrias e postos, além de reduzir o tempo de
descarga, que impacta na disponibilidade do veículo para outras operações. As
informações das demandas por unidade fabris, recepções e expedições previstas
precisam estar acessíveis, automatizadas e consolidadas para ter essa tomada de
decisão em tempo hábil.
Há
ainda outras métricas fundamentais para a gestão da cadeia do leite, como
avaliar se todas as coletas de leite nas propriedades respeitam o limite máximo
de 48 horas e se há indicadores de temperatura e alertas de execuções fora do
planejado, tal como desvios, registros fora de locais definidos e permanência
em locais não permitidos.
Ainda
conectado ao processo de transporte do leite, os laticínios investem em
processos de auditoria das normativas vigentes, que avaliam rigorosamente todos
os aspectos sanitários, rotinas de análise do leite, condições dos veículos
utilizados no transporte, na capacitação, identificação e disponibilização de
equipamento de proteção individual para os motoristas. A utilização de
plataformas dinâmicas que abrangem o processo de relacionamento com os
produtores rurais permite acompanhar as demandas e o atendimento desses
processos por meio das programações que entendem todo o fluxo de deslocamento
dos veículos e promovem a rastreabilidade.
Além
disso, com o poder computacional das arquiteturas cada dia mais robustas e a
automação nas conectividades, não apenas pessoas se comunicam, como também os
objetos. Por isso, a instrumentação e o sensoriamento de veículos capturam
dados automaticamente e compilam em bases de dados, que permitem gerar camadas
sedimentares na consolidação de informações.
Outro
ponto a ser considerado nos sistemas dedicados à cadeia do leite é a
experiencia do usuário (UX), que deve ser captada na sua essência, aplicando
uma metodologia capaz de definir o perfil de cada usuário, adaptando a
tecnologia para promover o dinamismo necessário.
Como
vemos, o futuro está na antecipação de informações em todos os níveis, seja
operacional, tático ou estratégico. Para isso é necessário entender o passado,
aplicando modelos de dados propositivos de pensamento de máquina e inteligência
artificial. Nota-se que são inúmeras informações fornecidas em todas as etapas
e vários envolvidos e processos para monitorar. O fator chave para orquestrar
todo esse universo é a centralização de todas as informações em uma plataforma.
Os
conhecidos Centros de Controle Operacionais (CCO), já aplicados em outros
setores, como o de mineração, precisam ganhar espaço na logística do leite.
Assim como um quebra-cabeça, cada módulo pode ser implantado parte a parte,
iniciando nos preceitos da logística 3.0, no qual eliminamos o papel, até a
chegada à logística 4.0, cujas máquinas conversam entre si e possibilitam ao
fator humano a concentração de seus esforços nas ações as quais são
imprescindíveis: a promoção das relações humanas.
*Jefferson
de Oliveira Monteiro é gerente de Delivery da Engineering, companhia global de
Tecnologia da Informação e Consultoria especializada em Transformação Digital.