por Rodrigo Castro*
As
perdas de estoque no varejo brasileiro representaram, em 2020, cerca de 1,33%
do faturamento bruto, ou seja, aproximadamente R$ 23,26 bilhões a menos na
rentabilidade para as empresas, de acordo com 4ª Pesquisa Abrappe de Perdas no
Varejo Brasileiro, realizada em parceria com a consultoria EY.
Esses
dados podem ser divididos entre quebras operacionais e perda desconhecida. As
operacionais representam aproximadamente 30% do total das quebras, enquanto os
outros 70% referem-se a perdas desconhecidas, estratificadas em algumas causas
hipotéticas, já que o resultado decorre da diferença de inventário, no qual não
se tem a precisão da causa. Porém, há um outro indicador importante que deve
ser monitorado e tratado pelas estruturas de prevenção de perdas: as
rebaixas de preço e descontos em caixa, que, em resumo, são ferramentas
utilizadas pelo varejista para gerar maior atração e demanda para itens por
meio da redução dos preços.
Existem
uma série de motivos que podem disparar a rebaixa dos preços e, dentre eles,
está a alta quebra operacional de alguns produtos pelo descompasso entre a
oferta e demanda, por exemplo. Ou seja, produto parado estraga, é jogado fora
e, para evitar, aplica-se desconto para forçar a venda. Logo, em um ambiente
pressionado por redução de perdas de estoque, pode ser que a rebaixa de preço
seja excessivamente utilizada, transferindo a perda de margem do custo para a
receita. Afinal, as perdas de estoque sensibilizam o custo da mercadoria
vendida, enquanto a rebaixa de preço sensibiliza a receita. No final das
contas, ambos impactam a margem final.
Em
um projeto de prevenção de perdas focado em geração de valor, a estratégia
adotada deve ser o ataque da perda de forma estendida. Ou seja,
a avaliação das quebras operacionais e das perdas de margem. Com esse procedimento,
é possível que haja uma redução sustentável nas quebras operacionais, sem que
haja transferência das perdas para a margem. Esse resultado positivo ocorrerá
porque o foco estará na causa raiz das quebras operacionais, que são geralmente
os pedidos em excesso, o envio de itens promocionais forçados e os itens
inadequados para o sortimento das lojas.
Ao
conectar as estruturas de prevenção de perdas, comercial e reabastecimento com
indicadores que se conversam, há uma junção de forças para que o foco passe a
ser a rentabilidade da organização e não só a redução das perdas de estoque.
Diante desse cenário, o projeto de prevenção de perdas poderá configurar um dos
maiores alavancadores de resultado do varejista, que sairá do prejuízo ao lucro
em um ano.
Logo,
as perdas de estoque devem ser avaliadas em um contexto amplo e de geração
efetiva de valor para a organização, refletida principalmente em aumento da
rentabilidade. A prevenção, neste cenário, é uma poderosa aliada na
transformação organizacional de empresas que buscam mais eficiência e valor,
pois os resultados são rápidos e grande parte das ações dependem de esforços e
ajustes internos da cadeia de abastecimento e das ações de vendas.
*Rodrigo
Castro é diretor de BPI (Business Performance & Innovation) da ICTS
Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance,
auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.