por
Jefferson Kiyohara*
A agenda ESG (Ambiental, Social e
Governança, em português) tem relação com responsabilidade socioambiental,
diversidade e compliance, entre outros temas. É amplo, holístico e estratégico
para as organizações, razão pelo qual deve ter prioridade na agenda de
conselheiros e executivos. Passada a COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima),
quais os pontos de atenção para 2022? Existem questões-chave que precisam ser
respondidas e algumas delas são destaques, conforme elencadas abaixo.
1.
O que é relevante e prioritário nas iniciativas ESG da organização? Muitas
empresas querem ser ESG, porém ainda não têm uma matriz de materialidade com
metodologia formalizada. Sem mapear o que é relevante para a empresa e para os
seus stakeholders, é difícil entender e precisar quais os pontos de atenção e o
que é prioritário. Além disso, o programa deve estar alinhado à estratégia do
negócio e atuar de forma integrada através das múltiplas áreas. É preciso
trabalhar os três pilares de forma integrada.
2.
Quais os impactos e riscos oriundos das mudanças climáticas para o negócio? O
que a empresa já está fazendo e o que planeja fazer a respeito? Como o Conselho
de Administração supervisiona a execução do plano? A ciência e os fatos têm
demonstrado que as mudanças climáticas trazem inúmeros riscos para as
organizações, inclusive com impactos operacionais e/ou financeiros relevantes.
Neste contexto, os investidores têm procurado divulgações alinhadas com as
recomendações da TCFD (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures). A
alta direção precisa ter ciência dos riscos relacionados às mudanças
climáticas, em especial os materiais, e mitigá-los de acordo com a política de
gestão de riscos e apetite da organização. Muitas organizações precisam
atualizar a matriz de riscos corporativos.
3.
Estamos preparados para a economia de baixo carbono? Qual a estratégia de
descarbonização? Qual o plano de transição energética? Quais os recursos e
tempo necessários? E quais serão os impactos nos nossos resultados financeiros?
O plano está evoluindo adequadamente ou precisa ser acelerado para atingir as
metas e compromissos? Muitas empresas não estão se preparando adequadamente
para uma economia em transição no que tange à matriz energética e à geração de
gases de efeito estufa, sejam nas suas próprias operações, seja ao longo de sua
cadeia de abastecimento. Um exemplo é em como lidar com a redução de consumo de
combustíveis fósseis e eletrificação. É fundamental ter um plano, entender os
impactos operacionais e financeiros, ter metas realistas e recursos para a
execução. É preciso ter cuidado para não realizar ESG-washing, ou seja, mostrar
uma faceta que não corresponde à prática, como se comprometer a ser carbono
zero até 2030 sem ter ideia de quão factível é esta meta e quais seriam os
avanços necessários a cada ano.
4.
Qual o papel da segunda e terceira linhas de defesa na divulgação do relatório
de sustentabilidade? Está se tornando cada vez mais comum a publicação de
relatórios de sustentabilidade pelas empresas, bem como assumir compromissos
públicos. Dados são apresentados, o que torna importante garantir a integridade
e precisão deles, bem como os controles internos associados. A diferenciação de
tratamento de dados para reportes financeiros e de sustentabilidade deixarão de
existir em razão de demandas crescentes de investidores e de demandas legais e
regulatórias visando a maior confiabilidade dos números. Será importante
auditar o relatório e avaliar a efetividade dos processos e dos controles
associados à geração deste relatório.
5.
Como monitoramos o ambiente legal-regulatório ESG? Monitoramos tendências? Como
estamos nos preparando para nos adequar? Temos os recursos necessários? Existem
diversas obrigações a serem cumpridas pelas organizações em razão de demandas
de leis e regulamentações, seja no Brasil ou no exterior. Avanços na agenda ESG
estão sendo promovidos pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), pelo Banco
Central, pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e outros órgãos no
Brasil, por exemplo. Há decisões do setor financeiro que trarão impacto para
todos os demais setores e é importante estar preparado. Há mudanças em
andamento no processo de investimento em ativos e na cessão de crédito, bem
como no fornecimento de seguros empresariais. Da mesma forma, decisões na
Europa, EUA e outros países irão impactar as empresas brasileiras, dado que
estas estão listadas em bolsas internacionais e/ou participam do comércio
global. É necessário atuar preventivamente, acompanhando as tendências e
promovendo as mudanças necessárias, de modo a estar preparado quando a demanda
legal-regulatório vier, seja de forma direta ou indireta.
*Jefferson
Kiyohara é diretor de Compliance & Sustentabilidade na ICTS Protiviti,
empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG,
auditoria interna, investigação e proteção e privacidade de dados, e professor
da FIA.